Ana Elena Tejera esteve em destaque na edição deste ano. Exposição, performance e cinema da artista panamiana passaram por Vila do Conde. Festival de Artes Performativas termina este sábado e ainda há muita coisa para ver e ouvir.
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“É uma história complexa, uma história sobre a saudade. Não é um filme autobiográfico, mas tem muito de mim”, atira Cebaldo de León. Anteontem, o protagonista de “Panquiaco” esteve em Vila do Conde para assistir ao filme. Rodado entre Vila do Conde e o Panamá, com o mar no centro da história, a película, a primeira longa-metragem da panamiana Ana Elena Tejera, regressou a casa para uma sessão especial no Circular.
O Festival de Artes Performativas de Vila do Conde termina este sábado, mas ainda há muito para ver.
A água – para Tejera é quase sempre a água ou não fosse o crescimento do seu país profundamente marcado pelo canal do Panamá – espelha ela própria o espírito do Circular: um fio condutor, várias artes. Ana Elena trouxe uma exposição, uma performance e dois filmes.
Os animais, a natureza, os povos indígenas, os rituais seculares e o enorme lago artificial, que muda tudo. A escravatura, o comando militar americano e o regresso às origens. O som, a imagem. Está lá tudo na “Casa dos Animais”.
A exposição – a única, explica o diretor do festival de cinema Curtas Vila do Conde, Nuno Rodrigues, que, em 18 anos da Galeria Solar, se foi transformando à medida que se “adaptou” ao espaço – foi inaugurada com uma visita guiada por Ana Elena Tejera e é o reflexo de mais um dos lados do Circular: a mistura de artes e sinergias com outros projetos locais, neste caso, o Curtas Vila do Conde. A mostra pode ser vista até 11 de novembro e tem entrada livre.
O mar é a tua casa
De volta ao mar, o Circular saiu à rua e o miradouro da praia Olinda foi o cenário escolhido por Ana Elena para uma performance ao pôr-do-sol. Uns foram surpreendidos pelo espetáculo – porque este, como diz a diretora do Circular, Dina Magalhães, também é um festival de “formação de públicos” –, outros foram mesmo lá para ver “Vela”.
A praia compôs-se e a cineasta e coreógrafa rodopiou, no alto da rocha, com o oceano ao fundo, ao som das ondas e da brisa do mar, num movimento contínuo em espiral de diálogo constante entre corpo e natureza.
O Circular chega este sábado ao fim e volta a mostrar que, ali, se cruzam artes, gerações e intérpretes e, ora se dá oportunidade a jovens estreantes, como o brasileiro Vinicius Massucato (teatro), ora se trazem nomes consagrados, de que o coreógrafo francês Christian Rizzo foi este ano o melhor exemplo.
Aposta-se nas coproduções e nas residências artísticas, há debates e workshops, tudo com a “matriz marcadamente experimental” que caracteriza o festival, que nasceu tímido em 2005 e, hoje, caminha seguro.
“Panquiaco” traz, de novo, a ligação à terra de um festival que não esquece as origens. Cebaldo já correu mundo e é, agora, pescador em Vila do Conde. Da lota ao barco dos irmãos Sencadas, passando pelo café Caxinas, o filme cheira à gente genuína da maior comunidade piscatória do país.
Cebaldo tem saudades do passado, da sua casa no Panamá. Lembra a comunidade indígena, os velhos rituais da terra e a lenda de Panquiaco, o índio que ajudou o explorador espanhol Vasco Núnez de Balboa a achar o caminho do Pacífico, para desgosto do mar. Regressa, mas a crise de identidade contínua e, no final, fazem outro sentido as palavras de Fernando: “Onde quer que estejas, o mar será sempre a tua casa”.
Três destaques para este sábado
Exposição no Batalha Centro de Cinema
No Batalha Centro de Cinema, no Porto, explica Ana Elena Tejera, há uma “segunda parte da história”: a instalação fílmica “Los sucesos que llevaron a su olvido” e, mais uma vez, a influência das ideologias militares americanas e o desejo de regressar às origens. Para ver até 19 de novembro.
Performance na Capela do Socorro
Este sábado, o n.º 9 do jornal “Coreia”, dedicado às artes e, em especial, à dança, será lançado às 18 horas, junto à Capela do Socorro, em Vila do Conde. O momento contará com uma performance de Luísa Saraiva inspirada nos cantares tradicionais do norte de Portugal e Galiza sobre violência contra mulheres.
Sessão dupla a fechar
Sábado à noite, a fechar o festival, há sessão dupla no Auditório de Vila do Conde: dança com “Diálogos” do quotidiano com muito humor, do bailarino e coreógrafo Henrique Furtado Vieira, e “Phonospermia”, concerto da Sonoscopia para harpa, flauta, percussão e eletrónica. Os bilhetes para as duas sessões custam cinco euros.