Claudio Savaget está em Portugal para apresentar o documentário "Max Stahl e os direitos humanos"
O filme narra cronologicamente a luta do povo timorense, contando com depoimentos de Max Stahl e de sobreviventes do Cemitério de Santa Cruz. Poderá assistir ao documentário, esta sexta-feira às 19 horas, na Tane Timor, no Porto.
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A 12 de novembro assinalam-se 31 anos do massacre do Cemitério de Santa Cruz, em Dilí, durante a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia. Max Stahl, falecido o ano passado, foi o jornalista que o mostrou ao Mundo a tragédia, filmando todo o acontecimento, deixando o seu contributo e marcando a sua posição como independente.
"Max Stahl e os direitos humanos" é o filme do documentarista brasileiro, Claudio Savaget que será apresentado esta sexta-feira, no Porto e tem o aval da ONU. Lançado no ano da morte de Max Stahl, 2021, parte do filme é narrado pelo próprio, estando presentes depoimentos que "vão desde 1993 até à sua última entrevista em 2015", refere Cláudio Savaget, ao JN.
O documentarista destaca que o filme tem o testemunho de nove sobreviventes do massacre. Também estão presentes alguns depoimentos de outros sobreviventes que participaram o ano passado na homenagem, no cemitério da Igreja de Santo António de Motael.
O filme está dividido em sete capítulos, seguindo uma evolução dos acontecimentos entre 28 de outubro e 12 de novembro de 1991. O documentarista revela que "o documentário foi feito para uma campanha das Nações Unidas sobre os Direitos humanos, eu e o Eddy Pinto tivemos a ideia de avançar com testemunhos tanto de Max, como de sobreviventes". Com alguma mágoa na voz, acrescenta, "que não se repita mais algo do género", referindo-se ao massacre em Timor.
"Max Stahl e os direitos humanos" irá ser apresentado pela primeira vez em Portugal, no Porto, mas "em seguida vai entrar o documentário completo nas redes sociais do Centro Audiovisual Max Stahl de Timor-Leste", revela Claudio Savaget.
O contributo de Max Stahl
Max Stahl morreu no ano passado, no mesmo dia que Sebastião Gomes, o jovem morto pela polícia indonésia, durante a ocupação em Timor-Leste. Foi este acontecimento, a 28 de outubro de 1991, que resultou numa manifestação a 12 de novembro e que levou ao hoje recordado massacre do Cemitério de Santa Cruz. As cinzas do jornalista foram depositadas no cemitério de Díli, no mesmo dia do massacre e no local em que ele se encontrava a filmar toda a situação.
Max entrou em Timor como turista e foi gravando com cassetes de fita, algo que acabou por chamar a atenção das autoridades e considerá-lo um alvo a abater. Para que pudesse divulgar todo o seu material, teve primeiro que conseguir sair do país e aí o mundo passou a saber de toda a situação, só passado alguns dias da ocorrência. Timor, por causa do seu trabalho, ganhou assim outra dimensão.
Max Stahl regressou a Timor em 1999 e é aí que vai criar o Centro Audiovisual Max Stahl de Timor-Leste (CAMSTL), para que num só espaço, tivessem armazenados vídeos e imagens históricas deste acontecimento marcante para a humanidade. Neste momento, a coleção, inscrita pela UNESCO no registo da Memória do Mundo, é liderada por Claudio Savaget e o jornalista timorense Eddy Pinto. Os dois têm conseguido com que o arquivo crescesse a um ritmo de 400 horas por ano, tendo já incluído mais de cinco mil horas de vídeo.
Com um relação de amizade de vários anos, Claudio Savaget conta como conheceu Max Stahl: "eu conheci o Max em 2002, da primeira vez que fui a Timor, quando dirigia um programa Global ecologia para a Globo (Brasil)". Em 2013 parte definitivamente para Timor e é lá que começa a trabalhar com o jornalista. "Fizemos muita coisa juntos, muitos documentários.", confessa Savaget.
Para além da sessão "Max Stahl e os direitos humanos", esta sexta-feira, às 19 horas, também poderá assistir ao documental "Uma halibur hamutuk -A casa que nos une", do realizador Ricardo Dias. Um filme que também se insere no contexto timorense, recorre a imagens que Max Stahl filmou em 1999, já no seu regresso a Timor-Leste depois do massacre. É relatada, , a situação difícil em Liquiçá, por um grupo de freiras, mais especificamente por Mana Lou. A violência está bem presente, mas também os valores e humanismo deste povo e sociedade.