A obra de Manuel António Pina continua bem presente nas livrarias, com sucessivas reedições e ensaios. No dia em que se cumprem cinco anos da morte do escritor, o JN passa em revista o que foi publicado nos últimos meses.
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A salvo do esquecimento que, segundo dizia, desaba sempre, mais cedo ou mais tarde, sobre tudo e sobre todos. É deste modo que podemos apelidar a obra de Manuel António Pina (MAP), no dia em que se completam cinco anos sobre a morte física do jornalista e escritor.
"A morte e a vida morrem / e sob a sua eternidade fica / só a memória do esquecimento de tudo / também o silêncio de aquele que fala se calará", como escreveu no poema "Algumas coisas", incluído no livro "Aquele que quer morrer".
O limbo em que tantas vezes mergulham, nos anos seguintes ao seu desaparecimento, os livros de muitos autores - de José Cardoso Pires a Vergílio Ferreira, de Augusto Abelaira a Fernando Namora, é só escolher - não parece ter atingido a obra do Prémio Camões 2011.
Lidos e partilhados com grande fervor, como se conclui facilmente numa rápida ronda pelo infinito mundo virtual, os poemas de Manuel António Pina continuam a ser muito procurados por todos aqueles que buscam uma comunhão com as palavras que vá muito além dos simples jogos florais ou dos estéreis devaneios sentimentais que caracterizam boa parte da produção poética contemporânea.
Se os leitores têm sido essenciais na manutenção do forte apelo da obra de MAP, a atenção editorial - decisiva para que os livros de qualquer autor continuem a chegar a novos leitores - não tem ficado muito atrás.
De 2012 até ao presente chegaram às livrarias obras muito diversas, mais de uma dezena, desde reedições, antologias e ensaios.
Nos últimos meses, a Sistema Solar publicou dois ensaios que reforçam a análise crítica e os estudos literários da obra de MAP: "Uma pedagogia do literário", da investigadora Rita Basílio (escrito a partir da sua tese de doutoramento em Estudos Portugueses na Universidade Nova, de Lisboa) e "Reler e pensar a poética de Manuel António Pina", de Maria João Cantinho.
O próximo livro do autor a ser publicado, já no próximo mês, intitula-se "A noite" e tem por base uma peça de teatro estreada em janeiro de 2001 no Teatro da Vilarinha, no Porto.
Foi publicada pela extinta Campo das Letras poucos anos depois e chega agora de novo às livrarias numa edição da Assírio & Alvim, que a publica na coleção "Assirinha", dedicada aos mais novos.
Com ilustrações de Abigail Ascenso, "A noite" detém-se sobre alguns dos temas preferenciais da obra de MAP, como os binómios realidade/sonho ou vida/morte.
Nestes cinco anos foram também várias as homenagens concedidas ao poeta natural do Sabugal. Apenas dois exemplos: a Câmara do Porto atribuiu-lhe a medalha de honra da cidade e o Museu Nacional da Imprensa promove anualmente um concurso de textos de amor que tem como patrono o autor de "Como se desenha uma casa".
Por concretizar continua, porém, uma promessa autárquica feita poucos meses após a sua morte: a atribuição do nome do poeta a uma artéria da cidade.