Abre ao público esta sexta feira a segunda exposição do ciclo "Manoel de Oliveira e o Cinema Português", patente até 3 de novembro em Serralves, no Porto. Há também muitos filmes para ver até novembro.
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Pela curadoria de António Preto, diretor da Casa de Cinema de Manoel de Oliveira, e de João Mário Grilo, realizador, professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa e autor de vários livros e artigos sobre o cinema e a arte contemporânea em Portugal, somos levados a descobrir a cinematografia de Manoel de Oliveira durante uma das maiores épocas de mudança para Portugal e para os portugueses: o 25 de Abril.
A exposição "Manoel de Oliveira e o Cinema Português: 2. Liberdade!", que abre ao público esta sexta-feira, na Casa de Cinema de Manoel de Oliveira, em Serralves, no Porto, centra-se nas obras e trabalhos que o lendário cineasta portuense desenvolveu entre 1970 e 1990.
A mostra tem ainda colaboração de uma equipa de investigadores do CineLab, da Universidade Nova de Lisboa, havendo ainda contribuição da Cinemateca Nacional.
A exposição conta com dois espaços de diferentes tamanhos. No maior, deparamo-nos com uma sala repleta de elementos que rapidamente nos transportam para o mundo cinematográfico de Oliveira. Conseguimos encontrar recortes, fotografias, livros, guiões , sinopses, criticas, desenhos, cartazes, correspondência e anotações provenientes do "Acervo Manoel de Oliveira", um arquivo que foi inaugurado em 2016 e que reúne diversos materiais de trabalho complementares às suas obras e ao seu processo criativo, incluindo ainda a biblioteca pessoal do realizador na integra.
A sala encontra-se com vários móveis, tapetes, pinturas, jogos e livros empilhados que remetem para a época caótica que sucedeu a Revolução de Abril. Podemos também encontrar uma cronologia do cinema português entre 1920 e 1990 através de imagens, recortes, fotografia e cartazes disponibilizados pela Cinemateca Portuguesa.
O segundo espaço é mais pequeno, mas de certo modo mais preenchido. Está ornamentado com decoração típica de qualquer sala portuguesa na altura do 25 de Abril, o que imediatamente nos transporta para essa época revolucionária e caótica, na qual as mudanças sociais alteraram para sempre o país e as suas pessoas. A sala está repleta de jornais e revistas do dia dos cravos, 25 de abril de 1974, a sala toda preenchida por fotos, quadros e louças da época.
A polémica de "Amor de Perdição"
Mal entramos na sala conseguimos imediatamente ouvir o barulho de um filme, numa pequena televisão a preto e branco está a ser emitido "Amor de Perdição: memórias de uma família". Durante a produção do filme, Manoel de Oliveira encontrou vários problemas relacionados com a produção. De forma a resolver os obstáculos, decidiu pedir apoio à RTP, que concordou em ajudá-lo na condição de que o mesmo adaptasse o filme para uma minissérie de sete episódios a ser transmitida no canal público. E nasceu assim a série homónima "Amor de Perdição: memórias de uma família".
Devido à lentidão e artificialidade da narrativa, o público português não conseguiu compreender a obra na sua integridade, dando início a uma crescente rejeição e desdenho pela obra do cineasta.
A exposição far-se-á acompanhar por um ciclo de filmes compreendidos entre 1970 e 1990, originários de vários cineastas portugueses da época, como Fernando Matos Silva, António da Cunha Telles ou Rui Simões, entre outros.
Apesar de a exposição ainda ter muito tempo pela frente antes do seu término - está patente até 3 de novembro -, o diretor da Casa de Cinema, António Preto, já tem em mente uma data para a terceira e ultima exposição do ciclo sobre Manoel de Oliveira e o seu arquivo presente em Serralves, apontando para o mês de abril/maio em 2025.
O acesso à exposição é feito mediante a aquisição do bilhete Serralves, que tem o preço de 24 euros, 20 para residentes em Portugal portadores de Cartão de Cidadão Português.
Calendário dos filmes a exibir
Dia 21 de abril, às 17 horas, "O Passado e o Presente" de Manoel de Oliveira, 1971.
Dia 28 de abril, às 17 horas, "O Cerco" de António da Cinha Telles, 1970.
Dia 5 de maio, às 17 horas, "O Mal-Amado" de Fernando Matos Silva, 1974.
Dia 12 de maio, às 17 horas, "O Recado" de José Fonseca e Costa, 1972.
Dia 19 de maio, às 17 horas, "Venilde ou a Mãe Virgem" de Manoel de Oliveira, 1975.
Dia 26 de maio, às 17 horas, "Brandos Costumes" de Alberto Seixas Santos, 1975.
Dia 9 de junho, às 17 horas, "Deus Pátria Autoridade" de Rui Simões, 1976.
Dia 16 de junho, às 17 horas, "Falamos de Rio de Onor" de António Campos, 1974.
Dia 30 de junho, às 17 horas, "Trás-os-Montes" de António Reis e Margarida Cordeiro, 1976.
Dia 7 de julho, às 15 horas, "Amor de Perdição" de Manoel de Oliveira, 1978.
Dia 14 de julho, às 17 horas, "Conversa Acabada" de João Botelho, 1981.
Dia 21 de julho, às 17 horas, "Silvestre" de João César Monteiro, 1981.
Dia 28 de julho, às 17 horas, "Lisboa Cultural" e "Nice, à Propos de Jean Vigo" de Manoel de Oliveira, 1983.
Dia 1 de setembro, às 17 horas, "Oxalá" de António-Pedro Vasconcelos, 1984.
Dia 8 de setembro, às 17 horas, "Francisca" de Manoel de Oliveira, 1981.
Dia 14 de setembro, às 17 horas, "Passagem ou a Meio Caminho" de Jorge Silva Melo, 1986.
Dia 15 de setembro, às 15 horas, "O Desejado" de Paulo Rocha, 1987.
Dia 22 de setembro, às 17 horas, "le Soulier de Satin" de Manoel de Oliveira, 1985.
Dia 6 de outubro, às 17 horas, "Movimento da Coisas" de Manuel Serra, 1985.
Dia 12 de outubro, às 17 horas, "Mon Cas/ O Meu Caso" de Manoel de Oliveira, 1986.
Dia 13 de outubro, às 17 horas, "Os Canibais" de Manoel de Oliveira, 1988.
Dia 20 de outubro, às 17 horas, "O Sangue" de Pedro Costa, 1989.
Dia 27 de outubro, às 17 horas, "O Processo do Rei" de João Mário Grilo, 1990.
Dia 3 de novembro, às 17 horas, "O Bobo" de José Álvaro Morais, 1987.
Dia 10 de novembro, às 17 horas, "Vista ou Memórias e Confissões" de Manoel de Oliveira, 1982.
Dia 17 de novembro, às 17 horas, "A Propósito da Bandeira Nacional" de Manuel de Oliveira, 1987, e "Non ou a Vã Glória de Mandar" de Manoel de Oliveira, 1990.