Sara Barros Leitão conta a história do Sindicato do Serviço Doméstico, esta sexta feira, no Teatro municipal Constantino Nery, em Matosinhos.
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Só uma atriz muito especial consegue manter o foco do público durante quase duas horas, sozinha em cena, como o faz Sara Barros Leitão em "Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa", no Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos, hoje às 21.30 horas. Na sessão de ontem, o público era escolar e surgiu, no âmbito do projeto Aurora, no caminho para a igualdade realizado pela Pé de Cabra, privilegiando "Arte pela democracia", sobre os valores e as conquistas de abril e o papel da mulher na luta pela igualdade de género.
A dramaturgia parte da cria- ção do primeiro Sindicato do Serviço Doméstico em Portugal, um a história, pouco (re) conhecida e contada, mas, como explica Sara Barros Leitão, "não é porque não foi contada que a tua história não existiu" Mas o raconto das empregadas domésticas em Portugal e tão marginal que parece que nem a lei geral se lhes aplica Até ao ano passado, estas mu- lheres tinham 44 horas de tra balho semanal e podiam rece ber menos do que o salário mi nimo, sendo possivel serem pagas também em géneros.
Apesar de a atriz denunciar todos estes factos gravosos ao público, não o faz de uma forma panfletária ou acusatória. O que comprova que é uma contadora de histórias nata, permitindo que viaje até 1866, onde se dá a fratura entre os escravos e as empregadas domésticas, obrigadas a ter um verbete para exercer a profissão.
Mas, como explica, "enquanto o leão não falar, só se sabe a versão do caçador, e se ele trabalhar para o 'Século' (jornal) ainda mais". A obra explica como se põe um leão a falar.
A maioria destas mulheres e crianças, "tratadas como membros da família", começavam a trabalhar com sete anos, viviam isoladas nas casas, sem contacto com o mundo exterior e grande parte delas eram analfabetas.
A mudança social para que se organizassem e tivessem capacidade de reivindicação dependeu de um esforço titânico e de muitas horas de rádio. A estas mulheres, nem o 25 de Abril parece ter chegado. Um abrir de olhos e uma obra teatral mandatória.
"Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa"
SARA BARROS LEITÃO
TMCN, HOJE, 21.30H