"Os trabalhadores das artes são como os outros: têm luz e casa, têm contas para pagar, têm as escolas dos filhos", lembra David Carvalho, da Filandorra - Teatro do Nordeste, uma das 75 estruturas que conseguiram nota suficiente, mas não tiveram direito a financiamento no Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes para 2020/2021.
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Os concursos estão a gerar descontentamento entre os artistas e há companhias em risco de fechar ou a ponderar despedimentos. Os protestos motivam o debate de hoje no Parlamento, a pedido do PCP, que quer explicações da ministra da Cultura, Graça Fonseca.
Na Filandorra a situação é dramática. David Carvalho assumiu ao JN que, caso não existam medidas de recurso, pedidas também por parceiros como a Universidade de Trás-os Montes e autarquias da região, terá de dispensar metade dos trabalhadores. O diretor artístico avança com duas datas simbólicas para o possível fim da companhia: o Dia Mundial do Teatro ou o Dia de Portugal.
Coesão em causa
No caso da companhia de Vila Real, há outra agravante: a da coesão territorial, que o concurso deveria garantir. Sem o poio à Filandorra, Trás-os-Montes acabou por não ser contemplada com apoios do Estado neste concurso. "Era o mesmo que durante dois anos não existissem urgências, nem haver vacinas" para uma parte do país, compara David Carvalho.
Desfecho igual poderá ter o Teatro Estúdio Ildefonso Valério, em Alverca. A companhia Cegada Teatro, aqui residente, ameaça fechar portas já no início de dezembro. O presidente da Autarquia de Vila Franca de Xira pediu uma reunião urgente ao Governo para tentar evitar a suspensão da atividade do teatro. Conseguiu, pelo menos, o encontro com Graça Fonseca, que fala na "necessidade de dialogar" com todos para que se melhore o modelo de apoio, mas não se comprometeu com um aumento do financiamento.
Também a histórica Bienal de Cerveira ficou excluída dos apoios e a região protestou. No concurso a que se apresentou, de Artes Visuais, só as propostas de Lisboa foram contempladas com dinheiro.A CIM Alto Minho pediu também uma audiência com a ministra, que já está agendada para o início de dezembro. Não se sabe que desfecho terá e Fernando Nogueira, da Fundação de Cerveira, admite que apesar de não estarem a ser considerados despedimentos , terão de recorrer a "cancelamento das iniciativas internacionais e com artistas de renome e fazer uma Bienal com uma duração mais curta", explicou ao JN, mantendo a esperança no encontro.
Para além do debate de hoje, também o BE requereu uma audição da ministra da na Comissão Parlamentar de Cultura e Comunicação. A plataforma Cultura em Luta agendou uma manifestação para o dia 10 de dezembro, e há um abaixo-assinado a pedir a demissão da ministra que, ontem, já tinha 70 entidades inscritas e centenas de artistas em nome individual.
Companhias do Porto também afetadas
No Porto, há companhias que também não conseguiram apoio. No concurso de Teatro, apesar de considerada elegível, ou seja, terem conseguido bem mais do que a nota mínima exigida (60%), a Palmilha Dentada e a Ao Cabo Teatro foram excluídas de financiamento para o biénio. A histórica Seiva Trupe, bem como a Astro Fingido e a Virgulinvisivel, não foram também contempladas. Nas Artes Visuais, a Bienal de Arte de Gaia, foi excluída. A Fundação Cupertino de Miranda, o Varazim Teatro e o Conservatório de Gaia também não receberam apoio no concurso de Programação.