Concerto dos The Cinematic Orchestra é uma experiência de comunicação audiovisual
Guimarães foi o primeiro laboratório para The Cinematic Orchestra, seguem-se Porto e Lisboa.
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A banda deixou claro ao público vimaranense, que preencheu por completo os 800 lugares do grande auditório do Centro Cultural Vila Flor, no sábado, ao que vinha: “o espetáculo a que vão assistir é uma experiência de comunicação audiovisual”. O anúncio foi feito por Ben Olsen - responsável pelos efeitos visuais - numa velha máquina de escrever, com o matracar da folha projetado em grande formato, antes mesmo dos primeiros acordes. Ou seriam aqueles os primeiros acordes, pode-se perguntar.
Os Cinematic Orchestra são construtores de atmosferas e o som do teclar daquela máquina não foi colocado ali por acaso. Transporta o ouvinte de imediato para 1929, mesmo antes de as imagens do amanhecer na cidade do filme/documentário “Man with a movie camera”, de Dziga Vertov, começarem a passar ao som de “The Projectionist”.
O concerto celebrava os 20 anos da banda sonora criada, a convite da organização da Porto Capital Europeia da Cultura 2004, para o clássico do cinema mudo. É neste sentido que se entende a presença dos efeitos visuais, e o aviso prévio “comunicação audiovisual”, para uma música que não foi pensada para ter vida própria. As faixas que os The Cinematic Orchestra criaram para o filme de Dziga Vertov colaram-se tão perfeitamente às imagens do documentário como a música de Nino Rota às realizações de Fellini ou de John Williams à Guerra das Estrelas. Um não faz sentido sem o outro (o filme está disponível em DVD, com a banda sonora).
O conjunto londrino, liderado por Jason Swinscoe (que agora vive em Portugal) evolui sempre “no fio da navalha”, sem deixar esmorecer o entusiasmo, mas sem nunca conduzir a música a um clímax. É uma arte tântrica que encanta os que se deixam seduzir, mas que também pode irritar alguns que se sentem presos numa espécie de pêndulo em movimento perpétuo. O que se pode dizer é que os The Cinematic Orchestra dominam na perfeição esta arte de fazer música que é tão naturalmente atmosférica que a certa altura parece que podia ser produto do som do vento.
Em Guimarães arrancaram uma ovação de pé durante largos minutos. Este domingo, repetem a dose na Casa da Música, no Porto, e dão um último concerto na Aula Magna, em Lisboa, na segunda-feira.