
Irma participou nas CLAV Live Sessions na passada quinta-feira
Miguel Pereira/Global Imagens
As CLAV Live Sessions colocaram localidade a poucos quilómetros de Guimarães, no mapa da programação cultural portuguesa.
Em Vermil, uma freguesia do concelho de Guimarães, há um turbilhão que, desde 2015, agita a cena cultural portuguesa O CLAV, Centro Laboratório Artístico de Vermil, foi pioneiro na programação de concertos em formato misto, com público presencial e streaming, e teve a singularidade de não parar durante a pandemia.
O território é periférico, mas Alberto Fernandes, diretor artístico do CLAV, prefere dizer que "estamos a 12 quilómetros de Guimarães, Famalicão, Braga e Santo Tirso e não estamos longe do Porto". O CLAV tinha, desde o primeiro momento, dois grandes objetivos: primeiro, dar condições aos artistas para poderem criar; segundo, descentralizar.
Marca de qualidade
"No primeiro ano passaram logo por aqui mais de 300 artistas", lembra Alberto Fernandes. O diretor sublinha que alguns nomes emergentes que foram passando pelas CLAV Live Sessions "agora fazem casas cheias", mas não quer destacar nenhum, preferindo focar-se no facto de a passagem pelo CLAV se ter tornado num reconhecimento de qualidade que faz com outros programadores prestem atenção aos artistas.
Embora as CLAV Live Sessions tenham adquirido especial relevo, o diretor artístico lembra que também programam o Peles - International Drum Fest e o Ecofest, um festival de verão. Ao longo dos últimos anos, passaram por Vermil mais de mil artistas, muitos deles fazendo residências.
"O que recebemos em financiamento dos Municípios de Guimarães e Famalicão não chega a nada para a nossa programação. Investimos neste trabalho recursos próprios que conseguimos através de serviços que prestamos para terceiros", esclarece Alberto Fernandes.
Experiência imersiva
Uma CLAV Live Session, ao vivo, é uma experiência inesquecível. A sala-estúdio, situada numa antiga escola primária, pode receber no máximo 25 pessoas, mas com dez já transmite uma sensação de casa cheia. Fica tudo tão perto que é possível ver aqueles detalhes que num concerto mais tradiconal só se pode imaginar ou, em alguns casos, ver num ecrã gigante.
"A ideia é passar às pessoas a sensação do trabalho que os músicos fazem em estúdio", por isso há headphones para todos. A experiência é imersiva. Na passada quinta-feira, no concerto de Surma, a música e a língua inventada das letras sobrepunham-se a todo e qualquer som e tornavam-se na única realidade sonora existente para as dez pessoas que conseguiram ali estar.
Dentro do espírito do CLAV, Surma chegou dois dias antes, para uma pequena residência, e presenteou o público com originalidades, nomeadamente uma versão ao piano de um tema de St. Vincent, uma referência de Débora Umbelino, a pessoa por trás da persona Surma. Também não faltou uma variação sobre uma canção de The Velvet Underground, a clássica "Femme fatale". "Músicas que eu aprendi nestes dois dias aqui no CLAV", afirma a multi-instrumentista.
Da programação para esta temporada ainda será possível ver Minta, no dia 25 de fevereiro, às 21.30 horas, mas o CLAV promete mais para breve.
Arranque nas vésperas da pandemia
O concerto de Surma foi a 42.ª CLAV Live Session. A primeira aconteceu em 2019 e, de forma premonitória, começou logo num formato misto de pequena plateia e streaming, que se viria a revelar uma solução que muitos tiveram que improvisar durante os confinamentos. Quando a transmissão era feita no Facebook, os concertos atingiram picos próximos dos 5 mil espectadores. Depois, o CLAV assumiu uma perda de visualizações para garantir a transmissão em HD no YouTube. Entretanto, as CLAV Live Sessions são agora também transmitidas pelo canal Alma Lusa (exclusivo do Meo) e pelo Porto Canal.
