Os <strong>Radiohead</strong> eram a banda mais aguardada da 10.ª edição do NOS Alive, não será excessivo dizê-lo, e brindaram as 55 mil pessoas que lotaram o recinto com uma viagem entre as canções do último disco e sucessos atemporais.
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Volvidos quatro anos, Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O'Brien e Philip Selway voltaram a pisar o Passeio Marítimo de Algés, desta vez com disco novo para apresentar à legião de fãs que têm por cá. "A moon shaped pool", editado este ano, deu o mote para um concerto que foi em crescendo até aos dois encores que deixaram os fãs entre o êxtase e a comoção.
"Burn the witch" e "Daydreaming" são a belíssima porta de entrada para o mais recente disco e, tal como tem acontecido nos outros concertos desta digressão, tiveram honras de abertura. Seguiram-se "Decks dark", "Desert island disk" e "Ful stop", decalcadas por ordem do alinhamento de "A moon shaped pool". Poucas seriam as bandas que se atreveriam a de um só golpe apresentar cinco temas novos, mas os Radiohead são conhecidos por desafiar os cânones e não ceder a facilitismos.
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O público ainda está a cimentar a relação com estas novas canções e a própria banda revela que ainda falta estrada para que brilhem tanto ao vivo como em disco. O burburinho do público nas laterais e o baixo volume do som (a voz de Thom Yorke, por vezes, quase impercetível) não terão permitido a grande parte do público mergulhar nas atmosferas densas e introspetivas que só um silêncio reverencial permitiria.
O primeiro regresso ao passado e a uma vida mais rock da banda surgiu pela mão de "My iron lung", do disco "The bends" (1995), da qual sairia também "Talk host show" (um lado B para fãs acérrimos) e a emotiva "Street spirit (fade out)", entoada a plenos pulmões pela massa humana que enchia o Passeio Marítimo de Algés. Como seria de esperar, foram as canções de outrora que treparam até ao coração dos fãs e os fizeram acelerar.
Dos anos zero, a intensa "Reckoner", a mais recente "Lotus flower" ou as influentes "Everything in its right place" e "Idioteque", de "Kid A" (2000).
No primeiro encore, a trupe de Thom Yorke distribuiu "Bloom", "Nude" ou "2+2=5", mas foi "Paranoid android", do seminal "OK, computer" (1997), que ofereceu a explosão de guitarras entrecortadas por uma espécie de cântico religioso emanado do público.
No regresso ao palco, os primeiros acordes denunciavam "Creep", uma espécie de canção fetiche para os fãs de tão mal-amada que acabou por ser pela banda, que durante anos a baniu dos concertos.
A comoção tomou conta das vozes, domadas pelo entusiasmo e uma certa incredulidade, mas com a certeza de que nem todos os públicos terão direito a este momento. Vinte e três anos depois, o sucesso do disco de debute da banda, "Pablo Honey", continua a soar tão bem como sempre imaginámos que soaria ao vivo.
A vertigem de "Karma police" marcou a despedida, com um coro de vozes a agigantar-se antes de uma ovação.
Courtney Barnett e Father John Misty memoráveis no Heineken
Quem assistiu aos concertos de Courtney Barnett e Father John Misty, no palco Heineken, levará duas atuações estrondosas na memória desta 10.ª edição do festival.
A australiana Courtney Barnett deixou o público rendido com o seu punhado de canções notáveis e uma atuação de rock intenso sem espaço para floreados desnecessários. Pose descontraída, direta ao assunto, foi desfiando as canções de "Sometimes I sit and think, and sometimes I just sit" (2015), disco de estreia que parece ter acertado em cheio no público. "Depreston" e "Pedestrian at best" foram momentos altos do espetáculo, que terminou com a certeza de que Barnett, de 28 anos, tem um futuro promissor pela frente.
Já Father John Misty é todo ele teatro, drama, encenação, um pulsar irresistível e contagiante para os fãs ou para quem se deixa apanhar na curva da sua personagem hipnotizante. "I love you, honeybear" (2015) é o prato principal, mas Josh Tillman ataca o concerto com "Hollywood forever cemetery sings", do primeiro disco enquanto Father John Misty, "Fear fun" (2012).
"Chateau lobby #4 (in C for two virgins)" é viciante e viciosa e os olhos ficam pregados ao seu corpo que se contorce e explode - a rodopiar a guitarra no ar ou de microfone em riste - enquanto o público entoa cada frase com uma devoção justificada. "Bored in the USA", repleta de uma melancólica ironia, parece tê-lo amansado, mas "True affection" inicia o caminho apoteótico até "I love you, honeybear", com Misty - esse gentleman em fúria - a derramar-se sobre os fãs na primeira fila.
Foals aquecem ambiente para os Tame Impala e Radiohead
Os Foals, que tocaram ainda com o sol a brilhar no céu, convenceram os fãs com uma atuação sólida a dividir material do último "What went down" e "Holy fire". O cantor Yannis Philippakis terminou o concerto a lançar-se para cima da multidão, a nadar sobre cabeças enquanto cantava "Two steps twice".
Antes, a estreia em Portugal dos Years&Years, eletropop fresca e vibrante conduzida pela voz de Olly Alexander, um rapaz franzino e enérgico que parece genuinamente feliz com a multidão que se vai concentrando em seu redor. Aclamados pela crítica mesmo antes de "Communion" (2015), disco de estreia, oferecem canções com refrães colantes como "Desire", "Shine" ou "King" e mostram que estão no Alive para meter a massa a dançar.
É claro que no meio de dezenas de atuações nem tudo foram rosas. Os brasileiros Soulvenir, por exemplo, como se já não bastasse o nome da banda, abriram o palco Heineken com uma mistela sonora atroz de fugir a sete pés: teclados a derramar azeite e eletrónica quadrada para semear tédio. O público permaneceu quase todo alapado na alcatifa verde, quase a fazer ó-ó.
A atmosfera, aí, só animou com a chegada dos australianos Jagwar Ma que dispararam uma outra dinâmica e transformaram a tenda numa enorme pista de dança.
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Contagem decrescente para Radiohead no NOS Alive
Colado às grades, Francisco Oliveira, de 19 anos, chegou ao Passeio Marítimo de Algés às 12 horas, para voltar a ver a trupe de Thom Yorke ao vivo. Regressa ao sítio onde foi feliz em 2012 e onde bebeu inspiração para criar a sua própria banda, os Deepbreathers. "O concerto deles mudou bastante a minha maneira de ver a música. Depois de sair do concerto não conseguia falar. Foi muito denso. São a banda que melhor alia a técnica à emoção", explica.
Francisco faz-se acompanhar pela outra metade dos Deepbreathers, Bernardo Costa, de 18 anos, que vai experimentar a vertigem dos Radiohead ao vivo pela primeira vez. "O método de criação dos Radiohead incentiva-nos a explorar outras coisas", garante, enquanto confidencia que gostava de entregar um panfleto da sua banda ao grupo britânico. "O artwork do disco deles até é parecido com o nosso", contam, de sorriso nos lábios.
Desta noite esperam apenas uma coisa: "um concerto perfeito".
É "apenas isto" que Ricardo Gomes, de 21 anos, também espera, até porque foram muitos anos a aguardar por este momento. Quer ouvir canções do novo disco, de disco anteriores, mas espera que a banda não toque a "Creep". Motivo: "representa uma coisa que a banda já não é", atira, deixando elogios rasgados à capacidade que o grupo tem "de se reinventar e fazer sempre diferente e melhor."
Com 17 anos, Beatriz Dias herdou a admiração pelos Radiohead dos pais. Começou a ouvir o som dos autores de "Karma police" ou "Paranoid android" em pequena e esta noite vai vê-los ao vivo pela primeira vez. "Vou chorar, muito provavelmente. Vai ser bastante emotivo".