Reabertura de grandes salas não trouxe sinais positivos e empresas fazem nova estimativa de 80% de quebra nas receitas até final de 2020.
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As maiores salas de cinema de Portugal continuam vazias e a retoma está a ser tão lenta que as principais associações do setor estimam um cenário muito negro para os próximos meses. Se o público não voltar, o ano vai fechar com perdas que andarão entre os 75% e os 80%, ou cerca de 64 milhões de euros de receita e a certeza de que o parque de cinemas existente vai diminuir em 2021.
Nos primeiros sete meses do ano, segundo os dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual, a receita das salas foi 68,8% inferior à do ano passado. Em julho de 2019, as salas já tinham arrecadado cerca de 45 milhões de euros, ao passo que em 2020 a receita ainda só vai em 14 milhões. Julho foi um dos piores meses, com uma quebra de 95,6%, mas agosto está a ser igualmente mau.
No início de junho, o JN noticiou que as grandes cadeias de exibição de cinema previam, antes de reabrirem, uma quebra de 50% até ao final do ano e assinalava já o sério risco de falências no setor. Mas os espectadores não regressaram às salas como se esperava e "a previsão neste momento é que o mercado perca entre 75 e 80% em relação a 2019", estima Paulo Aguiar, da Associação Portuguesa de Empresas Cinematográficas (APEC).
Traduzido em euros, isto significa uma perda anual cifrada entre 62 milhões e 66 milhões, em relação aos 83 milhões de receitas geradas pelas salas no ano passado. Paulo Santos, da Associação Portuguesa de Defesa de Obras Audiovisuais (FEVIP) aponta para uma quebra semelhante, sendo que "os próximos meses vão ser decisivos".
"Falta de confiança"
Para a APEC, a "falta de confiança" e a circunstância de as maiores salas portuguesas "viverem muito das produções americanas" são os dois principais fatores para o afastamento do público. Com a pandemia a atacar em força nos EUA, as principais longas-metragens viram a estreia adiada.
O resto do ano vai ser definido pela adesão dos portugueses às longas-metragens que estão a chegar. Para já, todas as esperanças estão depositadas em "Tenet", o novo filme de Christopher Nolan, que estreia a 26 de agosto. "Se o "Tenet" for a mola que o nosso setor necessita, então aí amortiza-se um pouco essa diferença", diz Paulo Aguiar. Caso contrário, alerta, "no final do ano, princípios de 2021, poderemos ter um parque de cinemas substancialmente diferente do que temos agora, para menos".
Em contraciclo com as salas comerciais estão as salas independentes. O Cinema Medeia Nimas reabriu a 10 de junho e, nas primeiras três semanas, conseguiu o dobro dos espectadores da média dos últimos anos, mesmo com a lotação reduzida a metade devido às regras sanitárias. "A adesão dos espectadores foi surpreendente", refere uma nota enviada ao JN.
No Cinema Trindade, o ciclo dedicado a Kleber Mendonça Filho e as duas primeiras sessões das cópias digitais de Frederico Fellini tiveram boa adesão, ao passo que no Cinema Ideal a quebra em relação ao ano passado constatou-se, mas é inferior a 10%.