Isabel (Beatriz Wellenkamp Carretas) é uma política de extrema-direita “fofinha” que cuida dos amigos com desvelo, na nova peça do Teatro Oficina. Acaba esquartejada.
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A celebrar 30 anos, o Teatro Oficina estreia, esta sexta-feira, no Centro Cultural Vila Flor, “Crocodile Club”, uma reflexão sobre o crescimento da extrema direita. O dramaturgo, Mickaël de Oliveira, diretor convidado de turno, imaginou um encontro de fim de semana entre amigos, em que algumas das tensões que hoje estão presentes na sociedade se concentram num microcosmos. A reunião descamba e, a partir de certa altura, há cenas de horror dignas do Grand Guinol.
Mickaël de Oliveira já tinha visitado o estilo Gore em “Festa dos 15 Anos” (2020). O dramaturgo refere-se a este regresso ao género como “um músculo para pensar nisto”. Propõe-nos uma reflexão sobre a ascensão da extrema direita, em Portugal e no mundo. “Podemos matar os corpos, mas as ideias ficam”, alerta. Cinquenta anos depois de uma ditadura que durou 41 anos, Portugal tem um partido de extrema direita com um grupo de 50 deputados no Parlamento. Quando se fala de “matar os corpos”, é para isso que tem de se ir preparado quando se vai assistir a esta obra: a morte representada com grafismo explícito.
Na peça, Isabel é a candidata de extrema direita que segue à frente nas sondagens. É ela a anfitriã da reunião de amigos da faculdade, na sua casa de campo, herança de um antepassado que fez dinheiro como negreiro. Desengane-se quem pensar que se trata de uma megera intratável, é adorável para os seus convidados. Afonso (Afonso Santos), o ator de “ teatro comercial” é um catavento, Luís (Luís Araújo) está cheio de “guito” mas tem remorsos por Fábio, o videografo, não comer à mesa com o grupo, e Clara (Bárbara Branco) sente que na casa onde estão “viveram muitas pessoas”.
Inês Castel-Branco faz de Maria, a irmã (“meia irmã”, note-se) de Isabel que aparece sem ser convidada e “parte o verniz”. O mais interessante destas personagens criadas por Mickaël de Oliveira é o facto de elas se revelarem diferentes quando se apresentam na sala e na cozinha (palco) do que são nos quartos (vídeo). O mal não se apresenta necessariamente na pele de um “Lobo Mau”.
Crocodile Club
Teatro Oficina / Mickaël de Oliveira
Grande Auditório Francisca Abreu
Sexta-feira, 18 e sábado 19 de outubro, 21.30 horas
Preço: 10 euros / 7,50 euros com desconto