Deu ao primeiro disco o seu nome, como quem anuncia um segundo nascimento. Para os álbuns que se seguiram - "Raiz" (2013), "Riû" (2015) e "Luz" (2017) - foi buscar inspiração à natureza por nela encontrar a mesma "essência" do fado.
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Essa procura por qualquer coisa de seminal completa-se agora com "Amália por Cuca Roseta", o quinto álbum da fadista Cuca Roseta, que será lançado na sexta-feira. "Era uma peça que faltava à minha história, à minha carreira, porque é a base de tudo o que eu sou. A Amália continua a ser a minha grande inspiração", diz ao JN.
No ano em que a diva do fado, falecida em 1999, faria cem anos, Cuca Roseta viu a oportunidade certa para homenagear a artista, que não conheceu, mas a cujo repertório sempre foi buscar temas para as suas atuações ao vivo. As dez canções do disco incluem êxitos como "Barco negro" ou "Estranha forma de vida", mas também marchas como a "Marcha do centenário". Cantar Amália, admite, "é uma responsabilidade" e imitá-la "nunca poderia ser o caminho". Interpretou os temas à sua maneira, seguindo a lição da fadista que hoje tem morada no Panteão Nacional: "Só conseguimos chegar aos outros, se formos nós próprios".
"Lágrima" é o primeiro avanço do disco e um de três temas em que Cuca Roseta é acompanhada por Ruben Alves, "um verdadeiro fadista a tocar piano". O videoclipe da música foi gravado na Fundação Amália Rodrigues, casa-museu da artista, onde só tinha estado uma vez. "Ver o quarto da Amália, os vestidos, os quadros, até o papagaio dela que ainda está vivo! E gravar no jardim com as letras que lhe foram oferecidas quando ela tocou pela primeira vez no Olympia foi uma experiência incrível", recorda.
Do Estoril a Alfama
Cuca Roseta começou a cantar fado aos 18, mas foi preciso esperar pelos 30 para editar o primeiro álbum em nome próprio. Para quem começou num coro e foi backing vocal dos Toranja, não houve passadeira estendida. "Quando comecei a cantar fado, era muito insegura. Não vinha do bairro típico de Lisboa. Vinha da Linha e tive alguma dificuldade a entrar. Usava piercing, não me vestia de preto e foi um bocado um choque", recorda Cuca Roseta. Com o apoio de músicos como Mário Pacheco, fundador do Clube de Fado onde se evidenciou, de fadistas como João Braga e de produtores galardoados como Gustavo Santaolalla, por quem esperou quase quatro anos para que lhe produzisse o disco de estreia, Cuca Roseta deixou em definitivo as muitas possibilidades de carreira que abriu - Direito, Marketing, Psicologia - para fincar o pé no fado.
"Sou fadista, sempre me considerei fadista, mas não sou uma fadista tradicional", afirma a artista, agora com 38 anos, que está "a meio" do processo de preparação do próximo álbum, a lançar no final deste ano ou início do próximo. "Será muito português" e terá temas compostos pela própria, como nos anteriores.
Cinco álbuns com gravações inéditas
Gravações inéditas ao vivo de Amália Rodrigues em Paris serão editadas em julho, quando passarem 100 anos sobre o nascimento da fadista, no âmbito do projeto de edição da sua discografia completa, liderado pelo musicólogo Frederico Santiago. A edição da caixa com cinco CD está prevista para 23 de julho, data do aniversário oficial de Amália. Apenas o material de um CD é já conhecido. Trata--se da gravação do espetáculo no Olympia, em 1956, remasterizado a partir das bobinas originais. O restante material, entre 1957 e 1965, inclui gravações ao vivo e em estúdio na Rádio France, dois espetáculos completos, novamente no Olympia, em 1967 e em 1975, e ainda uma atuação para emigrantes portugueses em 1964.