Se a passagem de ano já nos vai trazer uma dose garantida de encontrões e gritarias de vária ordem, façamos do ultimo fim de semana de 2024 uma apologia da fruição serena.
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Inquietações suaves no Porto
Quem ainda não teve oportunidade de visitar a "Exposição CAC 50 anos: a democratização vivida” que se apresse. Termina já neste domingo a histórica mostra que revisita, no Museu Nacional Soares dos Reis, os primórdios do projeto que daria origem, anos mais tarde, ao Museu de Arte Contemporânea de Serralves.
Em plena euforia de Abril, vários artistas, entre os quais, Alberto Carneiro, Emília Nadal, Álvaro Lapa ou Júlio Pomar, mostraram os seus trabalhos numa exposição antológica que captou esses tempos fervilhantes, abrindo caminho à discussão em torno da abertura permanente de um centro de arte contemporânea no porto.
Conhecemos João 'Salsa' Salcedo pela toada eminentemente festiva d'Os Azeitonas, projeto musical que ajudou a criar há 20 anos. Mas o músico natural do canadá tem também uma dimensão mais contida no seu reportório a solo. Esta sexta-feira à noite, a Casa da Música recebe o compositor, produtor e pianista para um espetáculo a solo baseado no improviso, cujas origens remontam a pandemia, período em que, devido à impossibilidade de espetáculos, partilhou com os seus seguidores nas redes sociais um conjunto de criações nascidas de modo espontâneo.
Guimarães: o elogio do micro
Sabe-se que muitas das mais estimulantes criações artísticas contemporâneas acontecem fora da esfera das grandes instituições. Por isso, se é um visitante particularmente atento a propostas de artistas emergentes, a exposição que a Micro Galerias de Arte Contemporânea do jardim da alameda de são dâmaso inaugura este sábado à noite bem que pode merecer uma visita atenta. Ana Allen, artista plástica e investigadora na faculdade de belas artes da universidade do porto, apresenta em "Databending swamp”, uma série de imagens produzidas a partir de noções antagónicas de natureza artificial e de matéria digital. O tema da paisagem, inevitavelmente relacionado com o mundo natural, é aqui construído numa lógica de interferências digitais – artefactos visuais imprevisíveis, afirma a curadoria da mostra, patente ao público até 23 de março.
Corpo vs máquinas em Lamego
Pela mesma lógica de fuga aos ajuntamentos se rege a nova performance de João Pedro Fonseca. Esta sexta e sábado, o Teatro Ribeiro Conceição, é palco de uma proposta artística que sugere uma reflexão em torno do corpo e as suas quase infinitas possibilidades. Papel fundamental na peça desempenham as máquinas, enquanto instrumentos suscetíveis de contribuir para o estabelecimento de uma consciência universal, que supera territórios ou constrangimentos. Mais informações podem ser encontradas aqui.
Lisboa em modo Emergente
O nome diz quase) tudo. O Emergente é uma mostra de novos talentos da música portuguesa que há seis anos dá a conhecer artistas ou bandas cuja criatividade e inventividade são por demais evidentes. A edição deste ano já decorre e traz-nos oito projetos - Bea Bandeirinha, Catarina Carvalho Gomes, Francisco Fontes, Hal Still Echoes, Ibsxjaur, Líquen, Pato Bernardo e Ya Sin, que se juntam aos artistas convidados Surma, Maria Reis, Baleia Baleia Baleia e Agressive Girls – que deixam antever serões estimulantes.
Lisboa, Porto, Coimbra unidos por Demy
A obra do cineasta francês jacques Demy pode ser re)descoberta nos próximos dois meses, duração do ciclo que pode ser acompanhado em salas do porto cinema trindade), lisboa nimas) e coimbra teatro académico gil vicente). Como o JN dá conta, a retrospetiva permite o acesso, em cópias restauradas, a uma parte significativa da filmografia de Demy, incluindo películas que nunca foram exibidas comercialmente em portugal.
Jogos mortais em streaming
Caso as propostas atrás enunciadas colidam, ainda assim, com o desejo de serenidade absoluta, o streaming oferece um manancial de sugestões sem fim. Na Netflix, já está disponivel a segunda temporada de "Squid game”, a série-fenómeno oriunda da Coreia do Sul que explora o instinto de sobrevivência até patamares pouco habituais. Três anos depois da primeira temporada, o protagonista, Seong Gi-hun, que contra todas as probabilidades venceu o desafio proposta, procura encontrar os cabecilhas do jogo mortal, nem que para tal tenha que colocar a sua própria vida novamente em jogo.
"Adrenalina" rima com poesia a alta velocidade
Longe das multidões também nos podemos sentir acompanhados. Sobretudo se a leitura em causa for uma poesia que apela ao movimento constante, como é o caso do novo livro de Filipa Leal. Em "Adrenalina", recentemente editado pela Assírio & Alvim, a autora leva por diante um autêntico inventário variado das múltiplas dimensões da existência. Profundamente pessoal, mas com um sentido de comunhão que o torna digno de ser partilhado em massa.