Hipnótico e desconcertante, recheado de motivos e símbolos surreais, terror, refinamento, amor: não estamos só a falar do cineasta de "Twin Peaks"... Este é o nosso roteiro cultural de fim de semana. Bom proveito.
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David Lynch (1946-2025) não morreu; sucede apenas que agora, ou mais concretamente desde 15 de janeiro, David Lynch fala-nos a partir do Além – o que também não representa, convenhamos, uma mudança substancial de estatuto do cineasta que comunicou sempre a partir do interior da imortalidade das suas visões e revelações.
Imperecível como os seus filmes infinitos, é a partir destes – e das suas canções; para quem nunca o ouviu: mergulhe imediatamente aqui, aqui ou aqui – que Lynch continua a viver entre nós.
Afortunados, os seus fãs do Porto têm o privilégio de poder ver em sala, no imprescindível Cinema Trindade, alguns dos seus filmes no ciclo “Os enigmas de Lynch. A programação está aqui.
(Já agora, um pedido, que é um sonho: e programar uma sessão contínua de 18 horas com os 18 episódios da 3.ª temporada de “Twin Peaks”, todos realizados por Lynch, passados todos de enfiada, não é mesmo possível? Isso é que era!)
Mudando de cosmos: são raros, mas há dias assim, aqueles em que a Casa da Música cumpre, e verdadeiramente, o seu desígnio primordial e assume ser aquilo que deve ser sempre: “a casa de todas as músicas”.
Domingo é um desses dias: às 12 horas, na Sala Suggia, há Puccini, Lloyd Webber e Bernstein com a Banda Sinfónica Portuguesa; às 21.30 horas, ainda na dourada Suggia, há Vitorino e o seu novo disco “Não sei do que é que se trata, mas não concordo”; e antes dele, às 21 horas, na sala vermelha, está Nubya Garcia. Quem?
Nubya é a saxofonista britânica fundeada no jazz londrino e nos sons da diáspora afro-caribenha que a inspiram, ajudada por uma boa dose de hip-hop, dub, soul e reggae. "Odyssey", o seu novo álbum de 2024, é uma coisa selvagem e expansiva, cheia de arranjos orquestrais ornamentados, misturas meticulosamente encamadas e inúmeras reviravoltas. É uma experiência desorientadora, mas muito – muito – estimulante.
Consulte a agenda da Casa aqui e vai descobrir ainda, já este sábado, outra preciosidade: o lendário compositor brasileiro Alceu Valença, apresenta ao vivo as suas tropicais, barrocas e tão garridas “Valencianas”. Com Alceu também vem a Orquestra Ouro Preto.
Noutras latitudes, o GUIdance, o melhor festival de dança contemporânea de Portugal, juntamente com o portuense DDD – Dias Da Dança, claro, apresenta sábado em Guimarães “Cloud nine”, novo desafio coreográfico, e musical, de Vera Mantero e Susana Santos Silva. É às 18.30 horas, na Black Box do Centro Internacional de Artes José de Guimarães. No domingo, a récita move-se para o GNRation, em Braga, às 18 horas. O JN já viu “Cloud nine” e revela tudo aqui.
A programação inteira do GUIdance, que ainda corre, e com toda a urgência, até ao dia 15, está aqui.
Marcha-atrás: este sábado à noite, no Museu de Serralves, no Porto, a esplêndida compositora norte-americana Meredith Monk (o JN resume-a aqui em 1000 carateres) está também entre nós. E traz consigo, além da sua harpa vocal, o baterista John Hollenbeck para a segunda récita de "Duet behavior". Alerta: o auditório está há muito esgotado – mas, como sabem os crentes extraordinários, há sempre alguém que desistiu e pode haver um ou outro bilhete que milagrosamente aparece ali à última hora a planar.