Estatísticas do setor relativas a 2022 demonstram um impacto acima da perceção generalizada.
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Bem acima das vendas a retalho do vestuário (3,850 milhões de euros) e até das exportações do têxtil e do calçado (6,300 milhões de euros), a Cultura gerou um volume de negócios de 8,100 milhões de euros. Os dados constam das Estatísticas da Cultura de 2022, disponibilizadas pelo INE, e revelam um crescimento de 22% em relação ao ano anterior.
Para esta cifra expressiva, claramente acima da perceção generalizada sobre o setor, contribui o facto de a avaliação incluir não apenas a área cultural no sentido mais restrito, mas também a criativa, o que agrega ainda a arquitetura, o design, a publicidade ou a comunicação social.
Assim, estão registadas oficialmente mais de 75 mil empresas nestas áreas - uma subida de 10% face ao ano transato -, as quais empregam 190 mil trabalhadores (3,9% do total), com uma média de remunerações em linha com a restante economia (1417 contra 1412 euros). Os homens representam 52,9% dos empregos culturais, enquanto a faixa etária dominante é a dos 35 aos 44 anos, representando 28% do total.
Por setor, quem atingiu remunerações mais elevadas foram os profissionais ligados à distribuição de filmes, de vídeos e programas de televisão (3364 euros). No plano oposto estão os trabalhadores do comércio a retalho de discos em estabelecimentos especializados, com uma remuneração média de 774 euros.
Os números globais do setor impressionam também noutras valências. Segundo o relatório, as autarquias portuguesas investiram 582 milhões em Cultura no ano passado, mais 18% do que em 2021, com as atividades interdisciplinares a representarem 27% do total. Seguem-se as artes do espetáculo (26,7%), património cultural (22,3%) e bibliotecas e arquivos (14%). “As despesas em atividades culturais representaram 5,5% do total das despesas dos municípios (5% em 2021), tendo a despesa média por habitante a nível nacional atingido 55,7 euros (47,4 euros em 2021)”, pode ler-se no relatório.
Exportações em alta
Depois de dois anos fortemente marcados pelo contexto pandémico, que foi particularmente nefasto para a área da Cultura, 2022 foi marcado por uma recuperação notória, pese embora o facto de ainda existirem algumas medidas restritivas no início desse ano.
Em média, os preços subiram 1,5%. Se o acesso aos museus (mais 1,3%) e cinemas, teatros e concertos (mais 0,6%) ficou abaixo dessa cifra, vários setores fizeram atualizações superiores. As publicações periódicas (11%), os serviços fotográficos (8,3%) e os instrumentos musicais (5,9%) foram os recordistas.
Outro dado significativo sobre a importância do setor cultural está relacionado com a exportação de bens e serviços. Foram 238 milhões de euros gerados por esta área, que representaram um aumento de 19,4%. Ainda assim, o desequilíbrio entre exportações e importações é notório: estas últimas atingiram em 2021 470 milhões de euros.
O triunfo do Online
Nem só de avaliações empresariais se fazem as Estatísticas da Cultura 2022. Elemento importante para uma compreensão mais lata sobre o peso desta área no nosso quotidiano tem a ver com a participação cultural.
Neste segmento em concreto, salta à vista a importância que o digital assume para a grande maioria da população. Segundo os números disponibilizados, quase 82% dos portugueses leram notícias através dessa via, mas ouviram também música (69,5%), viram televisão (45%) ou jogaram e fizeram download de jogos (37%). Esse domínio estende-se à compra de filmes e música (43%) ou de livros e jornais (29%).