Estreia esta quinta-feira nas salas de cinema a comédia negra “Pobres criaturas”, de Yorgos Lanthimos. O filme está nomeado para 11 Oscars de Hollywood.
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Vencedor do Leão de Ouro de Veneza, do Globo de Ouro de Melhor Filme na categoria comédia ou musical, embora não seja tecnicamente nem uma nem outra coisa, nomeado para 11 prémios BAFTA e, cereja no topo do bolo, para 11 Oscars, “Pobres Criaturas” chega esta quinta-feira às salas portuguesas. Apesar de, previsivelmente, poder não agradar a todos, pelo modelo estético fraturante que segue, arrisca-se a deixar atrás de si uma legião férrea de fãs.
“Pobres criaturas” está nomeado nas principais categorias a que poderia apresentar-se: melhor filme, realização, argumento adaptado, atriz, ator secundário (embora a escolha de Willem Dafoe fosse mais justa do que a de Mark Ruffalo), fotografia, montagem... Mas é necessária uma precisão, sem desonra para o orgulho nacional: a nomeação para o Oscar de melhor banda sonora original destina-se somente ao trabalho de composição da música de Jerskin Fendrix e não inclui o fado “O quarto”, de Carminho, que ouvimos no filme.
"Pobres criaturas" é a obra mais recente do grego Yorgos Lanthimos que, na última década e meia, se colocou merecidamente na lista muito restrita de autores do cinema contemporâneo, no sentido de assinar obras sempre com o seu traço, a sua busca formal, os ambientes distópicos ou intemporais, as personagens presas por circunstâncias que se lhes escapam, mas em busca da fuga possível.
Era assim, à sua maneira sempre singular, em obras como “Canino” e “A lagosta”, “O sacrifício de um cervo sagrado” ou “A favorita”. E é assim com Bella, a provocante mulher-criatura central do seu novo filme.
Resgatada de uma morte certa, desprovida de um corpo e um cérebro em sintonia, fechada na mansão/laboratório de um médico louco ou visionário, desperta para uma vida livre através de um périplo à descoberta do mundo – e de sexo. Passa por Lisboa (filmada em estúdio em Budapeste), com a nossa fadista a cantar alguns segundos , e continua por Alexandria e Paris, antes do regresso a Londres.
Lanthimos, através da adaptação do romance de Alasdair Gray, cruza e subverte mitos como os de Frankenstein ou a Bela e o Monstro, conta com a arrojada cumplicidade de Emma Stone, enquanto produtora e atriz, leva aos limites a utilização da gramática e da tecnologia do cinema, e oferece-nos um espetáculo único de novo cinema.