Marcelo D2 abriu primeiro dia do MIMO com conversa sobre a nova fase da sua carreira. Festival está de regresso a Amarante até este domingo.
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Os pés bailavam ao som do pagode. Poucos segundos depois, era já o braço em riste chamado a intervir, balançando cima e baixo ao ritmo do beat. O vaivém entre samba e hip-hop - ora um em 30 segundos, ora outro no meio minuto seguinte - com o qual Marcelo D2 arrancou o seu espetáculo esta sexta-feira no MIMO foi premonitório da hora e meia que sucedeu.
Num dia em que o regresso do festival de origem brasileira a Amarante demorou a aquecer (os ânimos, já que a temperatura, essa, foi alta até pela noite dentro), o cabeça de cartaz teve para si um clima apoteótico que se foi cozinhando com o passar dos concertos.
Para o artista natural do Rio de Janeiro (Brasil), o MIMO voltou a ser o MIMO de há cinco anos, quando de cá da terra saiu. O Parque Ribeirinho preencheu-se até às costuras do rio Tâmega, por várias vezes ecoando as letras por cima do som do palco.
Conversa deu início
Já horas antes, no inaugurar da programação, várias dezenas preencheram o claustro do Museu Amadeo de Souza Cardoso para ouvir este mesmo rapper falar sobre a nova fase profissional e o projeto, “Iboru”, que levou esta mistura de pé a dançar e beat no braço ao palco e que conta ainda, neste MIMO e até domingo, com uma exposição e uma curta-metragem.
O palco principal não iniciou com a energia com que culminou. Pelas 20 horas em ponto, ainda o sol e o calor faziam parecer hora de pico, os Vitrolab subiam a palco. Do lado da plateia, não chegavam aos dedos de duas mãos as pessoas a assistir.
Foram menos de uma dúzia os que então testemunharam a abertura poética do espetáculo da dupla de irmãos brasileiros. Ainda com a atrapalhação de uma descoordenação técnica e o vídeo institucional a dar, o convidado do duo apresentou-se na frente de palco com uma pomba branca na mão. Largou-a, mas esta não sobrevoou o parque quase vazio rio fora, tendo preferido ficar solitária no cimo do palco - talvez para ver se aquilo se compunha mais tarde.
O público foi-se juntando à medida que a dupla Vitrolab avançava no repertório e já a meio a plateia tinha-se transformado num palco de pequenos grupos de amigos e famílias a dançar pagode.
Novo cine-teatro
A maior surpresa aconteceu dentro de portas. A norte-americana Leyla McCalla levou o seu quinto e mais recente álbum de estúdio, “Sun Without the Heat” (“Sol sem calor” - tradução livre que valeu até uma observação irónica por parte da própria artista ao abrir do concerto). A voz onírica e cativante preencheu de emoção uma sala que se compôs quase até ao limite.
O concerto aconteceu no cine-teatro, espaço renovado e inaugurado no ano passado, do qual o MIMO não tinha ainda usufruído.
Este sábado, Fatoumata Diawara é a grande esperada do segunda dia de MIMO. Domingo encerra a sexta edição do festival (quinta em Amarante) com uma noite de maior diversidade de origem dos artistas, mas na qual o palco principal deverá esbordar novamente pelo português Dino D’ Santiago. A entrada é gratuita.