Novo álbum de Luís Louro é uma elegia antibélica.
Corpo do artigo
Algures na França ocupada, durante a II Guerra Mundial, um caça britânico é abatido numa zona campestre. A paisagem bucólica, até aí poupada à brutalidade do conflito, é invadida por soldados alemães que pretendem capturar o piloto.
Um comando ocupa a pequena casa onde Dante, de dez anos, vive com a mãe cega, alterando a normalidade até aí possível e trazendo a bestialidade do conflito para as suas vidas. É um acontecimento traumático, a cuja essência o leitor assistirá num crescendo de realismo cruel, que de certa forma contrasta com o traço personalizado semicaricatural de Luís Louro, e irá levar o adolescente a fugir de casa e embrenhar-se na floresta, de que as lendas locais aconselham distância.
Elegia antibélica que, tendo a II Guerra Mundial como motivo, se revela intemporal e ganha outra relevância no momento que vivemos, "Dante" sofre nesse ponto uma completa mudança de rumo, mergulhando num abismo negro e fantástico, povoado por duendes, elfos, monstros e outros seres que todos julgamos imaginários, mas onde a guerra continua presente com todos os horrores que lhe associamos.
Obra mais ambiciosa de um autor com décadas de produção regular, maioritariamente apostada na comédia de costumes e no humor brejeiro, este novo álbum de Luís Louro está repleto de citações, desde a óbvia "Divina comédia" a outras como "O Capuchinho Vermelho", Tolkien ou "Peter Pan", além das autocitações que farão as delícias dos leitores fiéis que o desenhador e argumentista conquistou e cultivou ao longo dos anos.
Se é verdade que o lado negro de "Dante" talvez pedisse um risco mais realista, um pouco mais duro e sério, é forçoso admitir que o traço vivo e dinâmico característico do autor, a grande expressividade das suas personagens e as magníficas composições de tiras e vinhetas por vezes em duas páginas se revelam ideais, tanto para ridicularizar os monstros que assumem o papel de vilões, quanto para destacar o lado mais maravilhoso e positivo do relato.
O generoso caderno que encerra o livro, com muitos esboços e comentários de Louro, além de revelar aspetos do seu método de trabalho, confirma o rigor e a pesquisa subjacentes a uma obra, mesmo quando, aparentemente, ela era fundamental.
Dante
Luís Louro
Ala dos Livros