David Carreira: "Não gostaria de ver os meus filhos a prosseguir a dinastia Carreira"
Cantor, compositor, ator e empresário assinala uma década na música com concertos especiais
Corpo do artigo
Depois de tempos singulares, com a pandemia a reduzir uma média de 70 concertos anuais a "três ou quatro ao longo de dois anos", David Carreira está de volta à alta-roda do espetáculo, numa tour que celebra os dez anos de carreira. Este sábado atua no Multiusos de Guimarães.
Como é que um artista aguenta tanto tempo longe do palco?
Acabei por não parar. Logo no início da pandemia comecei a ver o que podia fazer no digital para não deixar de cantar, mas é verdade que dá uma saudade enorme, foi triste passar estes dois anos sem poder cantar ao vivo. Mas também faz com que dê ainda mais vontade de voltar à estrada para celebrar. Ainda mais nesta tour em que ao longo dos concertos faço uma retrospetiva destes dez anos.
Retrospetiva?
Como fiz dois documentários recentemente temos muito footage [gravações] de criação de música em estúdio e de momentos insólitos em concertos, produções, coisas que acontecem e que a malta não sabe. A ideia é ter momentos em vídeo a explicar o porquê de uma dada música ou um momento que os fãs se recordem e mostrar como aconteceu.
Parece-lhe que já passaram dez anos?
É estranho. Tenho a sensação que passaram 20, mas ao mesmo tempo parece que foi há muito pouco tempo, tudo foi muito rápido. Fiz muita coisa, já estou a fazer o oitavo álbum, dois documentários, novelas foram umas cinco. Aconteceu muita coisa que não pensava que fosse possível, porque nunca imaginei ser cantor. Há dez anos, quando lancei o primeiro álbum, foi numa de depois voltar às coisas sérias, estudar, ter um emprego "sério". Só comecei a acreditar que a música podia ser a minha vida a partir do meu terceiro álbum português.
Mas a música já estava no ADN da família. Porque demorou tanto?
Sempre gostei, mas não acreditava que era por aí. Para mim a música não passava de um hobby.
Ainda tem muito por fazer?
Sim. À medida que vou avançando vão surgindo novos desafios. Acho que o próximo álbum [previsto para o fim do ano] vai ser o melhor que fiz até agora, estou a trabalhar nele há dois anos, tenho uma outra visão das coisas, estou a compor cada vez mais, acabo por ser mais genuíno.
Tem alguma wishlist de artistas com quem gostava de trabalhar?
Há vários. Anitta, The Weeknd, Bruno Mars, Dadju, que é um músico francês. E tudo é possível.
Além da música, tem uma agência [Brainstorm], faz campanhas publicitárias e novelas, recentemente lançou uma coleção de NFTs. É assim que se sente realizado?
Gosto de ter vários desafios e fazer várias coisas ao mesmo tempo. O meu dia a dia é passado a ouvir uma música nova, a ouvir um ensaio para um concerto, a ver uma coleção de NFT, a ver a próxima coleção da marca de roupa. Divirto-me a fazer isso tudo.
Quando tiver filhos, gostaria de os ver a prosseguir a dinastia Carreira?
Não, de todo.
Porquê?
Porque quando aparece uma pandemia é a primeira profissão que sofre, não é? É uma profissão muito volátil. Hoje tens muito sucesso e daqui a um ano já não tens trabalho. A música passa por muitos fatores que não controlas. Não desejo isto aos meus filhos. Há tantas coisas mais engraçadas.
Quais?
Ser futebolista, por exemplo [risos]. Acaba por ser tão volátil como a música. Mas por acaso gostava. Porque é algo que sempre quis fazer [David jogou futebol até aos 18 anos]. Se me dessem a escolher entre a música e o futebol seria algo que eu teria dificuldade em fazer.