"Leitor compulsivo", o ensaísta foi um estudioso e divulgador sem par da literatura portuguesa. Relação próxima com os livros remontou à infância
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Júlio Dinis foi a sua primeira paixão literária. As tramas apaixonadas do autor portuense, escritas com um enlevo tipicamente oitocentista, arrebataram sem dificuldade o então muito jovem Eduardo, como o próprio o reconheceu por variadas ocasiões ao longo da vida.
Na "mala cheia de livros" que o pai lhe trouxe do Porto numa ocasião durante a sua meninice, não faltavam outros autores que depressa se converteram em devoções. Além de Júlio Dinis, "a Jane Austen que não tivemos", como defendia, havia obras de Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett ou o hoje esquecido Fortunato de Almeida.
Assim se iniciou uma relação tão estreita com os livros que se tornaria indissociável da sua própria existência. "Os livros são uma espécie de esfinge que nós criámos e que temos de decifrar, sob pena de permanecer ignorante dos grandes mistérios: quem somos? de onde vimos? para onde vamos?", afirmou em 2012, durante uma conferência em que reconheceu ser "um leitor compulsivo".
Sem prejuízo do saber enciclopédico que detinha noutras áreas, com relevo para a Filosofia, entregou-se a fundo ao estudo da literatura portuguesa através dos séculos. Devoto de Camões, cuja poesia é "um pensamento do mundo", prezava também de forma particular autores como Sá de Miranda, Gil Vicente, Eça de Queirós ou Antero de Quental.
No século XX, período que classificava como de "ouro" da literatura portuguesa, Fernando Pessoa aparecia antes de todos os outros. "Rei da nossa Baviera", o mais universal dos autores portugueses era, para Lourenço, "o sonhador de todos os sonhos, sobretudo dos improváveis". "Não há na nossa literatura prosa mais luminosamente suicidária", resumiu.
Dos contemporâneos, tanto apreciava Agustina, "a grande senhora das letras portuguesas", como Vergílio Ferreira, Miguel Torga, José Saramago e Lobo Antunes. "Grandes talentos" que recusou, todavia, apelidar de "génios". "Só a História o dirá", defendia.