Zarpámos do porto de Pireu, em Atenas, pela alvorada para uma longa viagem pelo Egeu até Santorini (Thira), a mais distante das ilhas das Cíclades.
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Nada fazia prever que, em breve, um vento vergastante e uma ondulação agreste se levantariam. Em Junho não costumava. Tão calmo é este mar, que - segundo a mitologia - o rei Egeu se atirou ao avistar a vela negra do navio do filho Teseu, retornado de Creta, onde foi para matar o Minotauro.
Nascida da explosão de um vulcão no ano de 1625 a.C., Santorini ergue-se num planalto árido onde sobressai o casario branco e as cúpulas azul turquesa. Para subir há quem vá de teleférico ou de burro. A pé só os audazes, já que a íngreme subida dista uns quilómetros até ao cimo.
Em Oia - a vila do outro lado da ilha - numa das sinuosas ruelas, ouvimos MadreDeus: é uma pintora portuguesa que ali reside há anos, ficamos a saber. Seguimos para Creta onde entre 2800 e 1000 a.C. a civilização minóica (de rei Minos) foi soberana; imortalizada pelo palácio de Cnossos - posto a descoberto por sir Arthur Evans, pouco antes de 1900 - e cuja profusão de aposentos o fazia parecer um labirinto...
Com uma única sala restaurada (para se imaginar como seria o resto), recordamos que os cretenses não eram guerreiros - não construiram uma única fortificação nem há temas militares respresentados.
Em contrapartida, abundam as estatuetas-miniatura das deusas da fecundidade - a mais célebre é a Deusa das Serpentes -, e suspeitamos que a cultura minóica se não matriarcal, era fortemente feminina.
Além disso, adoravam o mar e o touro. O seu maior ex-libris artístico, aliás, é "O fresco do touro" (1500 a.C.), onde duas bailarinas observam o salto mortal do bailarino-atleta sobre o dorso taurino.
Por isso, Marion Zimmer Bradley descreveu, na saga de quatro volumes "As Brumas de Avalon", a dança sagrada das sacerdotisas da Deusa com o touro numa cidade da perdida Atlântida, quando o sismo e o maremoto a submerge para sempre.