<p>Atravessar o Canal da Mancha pelo túnel Dover - Calais não é de todo experiência que se recomende. A travessia é enfadonha, claustrofóbica e cara. Mas rápida. </p>
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Ao pôr do Sol, já em terras de França, a placa rodoviária indica Dunquerque e recordo o monólogo de Keneth Bragnah antes da batalha de Azincourt, em Henrique V.
Entramos em Ruão - cidade natal de Gustave Flaubert - já noite escura, o que torna ainda mais fantasmagórica esta cidade gótica em cujo terreiro - agora baptizada de Praça do Velho Mercado - Joana d'Arc foi queimada em 30 de Maio de 1431. Entre flores e o intenso cheiro a peixe, o suposto tronco original ergue-se no largo - macabro! - a metros da catedral cuja fachada Claude Monet pintou de 1893 a 1894, consoante a luz que nela incidia.
Rumo à costa - parafraseando Marguerite Duras -, o céu tornou-se tão pesado que tocava a estrada completamente submersa pelo nevoeiro com raios e trovões rasgando o céu sobre as nossas cabeças. Já na moradia bretã com vista para abadia do Monte de Saint-Michel e ida a tempestade pode-se então avistar a colossal maraviha medieva.
De impermeável vestido, o dia seguinte é marcado pela caminhada à beira-mar (perto da fortaleza) em Saint-Malo - onde em Maio decorre o festival "Étonants Voyageurs" sobre literatura de viagens. Antes do adeus à Bretanha, um salto a Rennes, onde Madalena - 13ª apóstola, mulher de Cristo e mãe de Sara, segundo a ficção de Dan Brown -, estaria sepultada. Consumida pelo fogo em 1720, a cidade foi reconstruída em estilo clássico austero e assim se mantém: distante!
De regresso à Normandia, espertou na comitiva a ânsia de degustar umas valentes "moulles" (a sonoridade fonética deu azo a constantes graçolas) "mariniere", ou seja: uns bem condimentados mexilhões na cataplana afogados num calórico, mas divinal, molho de manteiga e alho servido com umas "frites". Desejo que acabou por ser satisfeito na vila costeira de Honfleur, apesar de ser domingo e tradição famílias inteiras abancarem nos restaurantes da marina.