Ao fim de 25 anos de carreira, Os Delfins vão acabar. Os dois concertos agendados para os coliseus de Lisboa e do Porto estão esgotados e são o adeus à banda. Miguel Ângelo volta em 2010.
Ao fim de 25 anos de carreira repartidos pelo Mundo e milhares de cópias vendidas, Os Delfins vão acabar. Os próximos concertos marcados para os coliseus de Lisboa e do Porto (já esgotados) serão um espécie de adeus português. Sem mágoas, nostalgias. Na memória ficarão alguns temas, sim, claro, "Saber amar", "Um lugar ao sol", "Nasce selvagem". Agora, a banda desfaz-se e cada membro do grupo segue o seu destino. Miguel Ângelo não diz adeus, antes até já.
Que "Tempestade" foi essa que pôs fim ao grupo? O projecto pop esgotou?
Não, e a prova disso é que os concertos de Lisboa e do Porto estão esgotados. As razões do fim são duas. Uma tem a ver com o facto de um dos músicos [Fernando Cunha] deixar de fazer parte da marca [Os Delfins]. Depois, sentíamos que o público solicitava sempre o mesmo tipo de canções e temas. Estava na hora de mudar, inovar.
Há gente que vai ficar órfã das vossas músicas. Sente nostalgia?
Não, mas tivemos momentos muito bonitos, marcantes do ponto de vista musical e simbólico. Quando fomos a Timor, em 1999, um dos temas entoado foi "Soltem os prisioneiros". Sentimos uma emoção grande. Recordo-me da bandeira a subir em Timor-Leste...
Neste caso, a cantiga foi uma arma...
É verdade, embora a nossa intenção não fosse intervir. Foi, no entanto, um momento alto, simbólico. Timor foi colónia portuguesa.
Acabou de chegar de Macau, onde participou num festival de música. Como foi esse encontro de culturas?
Uma experiência enriquecedora.Macau é hoje uma cidade cheia de acontecimentos, cujos símbolos da presença portuguesa estão protegidos e salvaguardados. O respeito pelo património existe e foi importante verificar tal facto. O concerto foi fantástico, na assistência estavam milhares de chineses, coreanos, australianos, portugueses. Foi outro final feliz.
Durante bastante tempo, o vosso grupo foi alvo de críticas e esteve na moda dizer mal. Porque era fácil e o estilo de música popular ajudava? Alguma vez se sentiram como um espécie de "bobo da corte"?
É fácil dizer mal quando um grupo está no auge e tem fama. É verdade que existiam muitas piadas, mas esse fenómeno é transversal na sociedade portuguesa. Salvaguardando as devidas diferenças, também acontece aos políticos e aos dirigentes desportivos...
O que vai fazer, depois dos coliseus? Escrever, fazer canções?
Escrever a autobiografia d'Os Delfins e, claro, gravar. Em 2010, darei início a um projecto a solo.
Ao fim de 25 anos, o que fica?
Uma legião de amigos e a certeza de que valeu a pena ter feito tantas canções para milhões de portugueses.
António Variações foi um guru?
Foi e tive muito gosto em gravar temas dele. Na altura, foi tabu, hoje é um ícone da música popular portuguesa (MPP). Esteve sempre à frente do seu tempo.
Qual foi o grupo marcante da MPP?
"Os Heróis do Mar", sem dúvida.
E Paul Weller, o que lhe diz?
Sou fã dele e dos The Jam. Gosto também de David Bowie. Ele fez a diferença no rock britânico, mas admiro The Who, um dos grandes grupos de sempre.
