Os Prodigy encerraram a segunda noite de NOS Alive, na sexta-feira, dia em que mais de 47 mil pessoas estiveram no Passeio Marítimo de Algés. Este sábado, Sam Smith, Chet Faker e Disclosure são alguns dos nomes que sobem ao palco principal do Alive.
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Se dúvidas houvesse quanto ao que vinham, os Prodigy trataram logo de esclarecê-las com a incendiária "Breathe" a marcar o tom de cerca de duas horas de concerto esfuziantes.
Longe da enchente registada em frente ao palco principal no primeiro dia, com os Muse, a banda de Keith Flint, Maxim e Liam Howlett mostrou toda a raça que a fez atravessar os anos 90 e chegar a 2015 com uma credibilidade inabalável e com a mesma energia que o público português já conhece de cor.
Depois de terem atuado no Marés Vivas no ano passado, os britânicos desceram até ao Passeio Marítimo de Algés para apresentar o novo disco, "The Day Is My Enemy", editado este ano, mas sem esquecer os sucessos que continuam a fazer vibrar várias gerações. E era vê-las, dos quarentões aos "sweet sixteens", a atirarem-se ao ar com "Firestarter" - resgatada do carismático "The Fat of The Land", de 1997 - ou com as novíssimas "Roadblox" e "Rok-Weiler".
Nas filas da frente, os corpos aos saltos perante a cavalaria eletrónica do grupo. Mais atrás, onde o som ia perdendo o impacto ao sabor do vento, muitos não desarmavam aos acordes de cada nova canção. Entre as mais emblemáticas e as do novo disco, faltavam os refrães na ponta da língua, mas sobrava em energia para não deixar o tronco quieto.
Keith Flint e Maxim já não são rapazes novos - caminham para a casa dos 50 -, mas mostram a mesma irreverência e performance incasável que com facilidade contagia a plateia.
"Nós adoramos vir cá, é a nossa segunda casa", dispararam, num dos muitos momentos em que espicaçaram diretamente o povo que se avolumava à sua frente.
"All my voodoo people here" foi o rastilho para "Voodoo People", um dos êxitos mais celebrados e que transformou o Passeio Marítimo de Algés numa autêntica rave desaconselhada a cardíacos. Antes do encore, regresso a 1997 e ao hino "Smack My Bitch Up".
Numa outra galáxia, a apenas alguns metros de distância, o conterrâneo James Blake desfiava a sua doçura eletrónica e intimista para um palco Heineken cheio só para o ver. Um muito aguardado regresso ao festival que o apresentou pela primeira vez ao público português em 2011.
De regresso estiveram também os Mumford & Sons, que subiram ao palco NOS antes dos Prodigy. Quem guardou na memória a banda que em 2012 se apresentou no Passeio Marítimo de Algés quando o sol descia no horizonte, terá visto o concerto desta noite com uma certa nostalgia. O folk que caracterizava o quarteto britânico deu lugar a uma sonoridade mais pop rock ao terceiro disco, "Wilder Mind", que o grupo veio apresentar ao público português nesta 9.ª edição do Alive.
"Snake Eyes", do novo registo, foi a primeira canção a ecoar no recinto, mas foi com "I Will Wait" - êxito retumbante - que a banda conseguiu chegar ao coração dos fãs e ouvir um coro em uníssono a acarinhar um dos seus refrães mais populares.
"Believe", primeiro single do novo trabalho, fica no ouvido e colhe junto da multidão, mas foram canções como "The Cave", "Roll Away Your Stone" ou "Little Lion Man", resgatadas do disco de debute, "Sigh No More" (2009), que protagonizaram os momentos altos do espetáculo.
Marcus Mumford, Ted Dwane, Ben Lovett e Winston Marshall continuam a revelar-se músicos exímios, mas a eficácia das novas canções ainda está por comprovar.
Alive rendido aos encantos de Capicua
É um fascínio recorrente, é isto que volta a suceder: a rapper Capicua chegou ao festival, subiu ao palco e abafou a concorrência. Aconteceu ao início da noite, naqueles momentos em que a luz do céu se transmuta, a moça num palco dentro de uma tenda, à sua frente uma multidão a transbordar por todos os lados. Apesar de uma lesão - "estou com um pé meio torcido, meio partido", avisou no início - a rapper do Porto voltou a dar um concerto intenso e pleno de momentos irresistíveis. Tudo aconteceu durante cerca de uma hora, os minutos passaram meteóricos, como sempre acontece nos bons momentos das nossas vidas.
Capicua e a sua companheira MC, Marta Bateira, dispararam no microfone as rimas de canções como "Medo do medo", "Maria Capaz", "Jugular", "Casa no campo" ou "Medusa" (com o rapper Valete), enquanto dois músicos se encarregavam da base instrumental e um artista desenhava, em tempo real, para um ecrã gigante. Recordou-se José Afonso no final. E a rapper de Cedofeita saiu de cena triunfante, uma multidão embeiçada a aplaudir e a pedir mais.
Enquanto Capicua fazia vibrar o palco NOS Clubbing, os australianos Sheppard, em estreia nacional, apresentavam as suas canções pop no palco principal. Os irmãos George, Amy e Emma Sheppard, acompanhados por mais três músicos, estiveram longe de reunir uma grande multidão em seu redor, mas o single "Geronimo" - a joia da coroa do grupo - surtiu o efeito desejado.
Antes, brindaram o público com as canções do seu disco de estreia, "Bombs Away", e aventuraram-se numa versão de "Teenage Dirtbag", dos Wheatus, que entusiasmou a plateia.
Quando se ouviram os primeiros acordes de "Geronimo", cuidadosamente deixada para o final, foi ver a pequena romaria saltitante em direção ao palco. Amy Sheppard enrolou-se na bandeira lusa e George pediu ao público para que se baixasse e explodisse num enorme salto que marcou a despedida.
Ao início da tarde, o palco na enorme tenda Heineken albergou a surpreendente festa folk dos Bear's Den, formação londrina a trabalhar um som próximo dos Mumford & Sons.