Entrámos em contagem decrescente para dia 19. Ir a esplanadas é bom, mas voltar a ver cinema no cinema e teatro no teatro não é só bom, é urgente. Guarde estas cinco sugestões, para que possa desejar mais uma segunda do que uma sexta-feira.
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Já todos percebemos que há uma fortíssima possibilidade de "Nomadland - Sobreviver na América", o filme sensação de Chloé Zhao, que acaba de arrecadar os prémios mais importantes na 74ª edição dos BAFTA (Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Atriz e ainda Melhor Fotografia), ser um dos nossos filmes do ano. O drama que retrata a vida depois de um colapso económico já se destacara nos Globos (Melhor Filme, Melhor Realizador) e é um dois grandes favoritos aos Oscars (cerimónia a 25 de abril). Talvez o leitor seja uma daquelas pessoas que chegou a convencer-se de que os filmes dos Oscars iriam passar, compensação do encerramento físico do mundo, algures entre a Netflix, a Amazon e a HBO. Confesso que fui uma dessas pessoas. Enganei-me. O filme que vai fazer-nos viajar lado a lado com a queen Frances McDormand estreia em Portugal na próxima segunda-feira. É a nossa primeira paragem obrigatória.
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A primeira paragem escolhida por Tiago Rodrigues, encenador e diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, para a estreia de "Catarina e a beleza de matar fascistas" foi Guimarães. Foi em setembro do ano passado. Há mil anos, portanto. Em circunstâncias normais, essa criação que mais do que colocar-nos dentro de uma família de sinistra tradição coloca-nos dentro de uma reflexão obrigatória para a sobrevivência da democracia, teria passado pelo Porto em fevereiro. Não aconteceu. A peça (António Fonseca no elenco é tudo menos um pormenor) vai estar em cena em Lisboa a partir de dia 19 e até dia 26. É uma razão de peso para atravessar concelhos e o mapa inteiro, se necessário. Quem não o fizer, não verá tão cedo o espectáculo, que logo a seguir entrará em digressão internacional.
Internacional e essencial é também o ciclo Joseph Losey (1909-1984), que assinala a reabertura do Teatro Campo Alegre, no Porto, e no Nimas, em Lisboa, com a habitual programação gourmet da Medeia. Ao todo, serão exibidos seis filmes em cópias digitais restauradas. No dia 19, a escolha recai sobre "Prisão maior", filme de 1960 em que "traça um retrato ousado do sistema prisional britânico, e de um personagem singular e a sua capacidade de sobrevivência numa sociedade onde nunca encontrará o seu lugar". Não temos o dom da ubiquidade, claro, não precisamos de matar a sede de tudo no mesmo dia. O ciclo continua até 13 de maio, cada filme será exibido várias vezes, e por ali vão passar ainda "Eva" (1962), "O Criado" (1963), "Acidente" (1967), "Mr. Klein" (1976) e "To go-Between - O Mensageiro" (1971).
Também com várias récitas ao longo de dez imperdíveis dias, regressa o festival Dias da Dança (DDD), no Porto, para a sua quinta edição. É uma edição mais curta, mais nacional mas muitíssimo apurada. Entre os dias 20 e 30 de abril, se nada mais for possível, reserve sempre o horário das 19 horas para ir ao Teatro (Porto, Matosinhos ou Gaia), é nessa hora dos "mágicos cansaços" que as obras de criadores como Jonas & Lander ("Bate-fado"), Ana Isabel Castro ("Iceberg") ou Jorge Jácome e Marco da Silva Ferreira ("Siri"), para mencionar apenas alguns daqueles que já não conseguimos dissociar do DDD, vão ver pela primeira vez a luz do dia. Mas um conselho avisado é pesquisar o programa e passar todos os dias pelo site do JN, que a partir de desta segunda-feira vai começar a deixar muitas pistas sobre tudo o que não pode mesmo perder - e é muito.
Como muito é o que o comissário Miguel Von Hafe Pérez preparou para a iniciativa "SITUAÇÃO 21: Histórias com amanhã - uma cartografia solidária de relevância das galerias do Porto", que inaugura já esta quinta-feira, dia 15, às 15 horas. A iniciativa reúne seis galerias portuenses (Galeria Fernando Santos, Galeria Nuno Centeno, Galeria Pedro Oliveira, Galeria Presença, Galeria Quadrado Azul e KUBIKGALLERY) e apresenta-se como "momento primeiro" de uma história que só pode continuar. "A cultura não é acessória e descartável. É, antes, um garante de futuro, de compromisso com visões do mundo que o tornam mais complexo, denso e habitável. Precisamos dos artistas para nos ajudarem a conviver com essa complexidade contemporânea."