“Bonecos para o povo” é o título da exposição na Sociedade Nacional de Belas Artes que revela desenhos raros da autoria de João Abel Manta.
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Cinquenta anos após a Revolução de Abril, e pela primeira vez em Lisboa, esta exposição permite o contacto com a mais vasta amostra de material relacionado com o trabalho gráfico revolucionário de João Abel Manta (nascido em 1928, em Lisboa). Não se limitando ao período de 1974-75, ela mostra peças da década de 1940 à de 1990, provando que o artista foi revolucionário muito antes da revolução, e que continuou a gerir a memória desta muito depois do seu termo.
No espaço em que, em 1947, com 19 anos, João Abel Manta pela primeira vez expôs desenhos (na II Exposição Geral de Artes Plásticas), podem ver-se reunidos pela primeira vez não apenas todos os esboços para algumas das mais marcantes imagens da revolução portuguesa de 1974-75, como desenhos da sua fase de arranque, que coincidiu com o fim da adolescência o início da idade adulta, e que incluem os que realizou na Prisão de Caxias, em 1948. Encontram-se também exemplos da sua revolucionária contribuição para a imprensa sob a censura de Marcello Caetano (1969-1973, incluindo, pela primeira vez numa exposição do artista, dois originais da série “Reportagem fotográfica” de 1972, entre os quais o “Festival” que levou João Abel Manta à barra do tribunal em 1973) e durante o PREC. A tudo isto se acrescenta um precioso conjunto de documentos provindos do arquivo do artista (originais, fotografias, cartas, recortes de imprensa).
A exposição está dividida em quatro núcleos: Revolução (1974-75), Ditadura (1940s-1974), Ditadores (a questão da presença opressiva de um ditador na vida e na obra de um artista, com particular enfoque em Salazar) e Processo (referência ao que levou o artista à barra do Tribunal em 1973 por um dos seus desenhos na imprensa). A mostra cobre a actividade de João Abel Manta como contestatário e resistente ao Estado Novo de Salazar, da década de 1940 a 1974, e como colaborador do esforço revolucionário até 25 de Novembro de 1975 (meses em que se distinguiu como o mais importante contribuinte de imagens que marcaram e definiram o PREC) e, depois, como um dos muitos portadores da memória dessa revolução incompleta.