Espetáculo chega a 11 de dezembro com orquestra, música original e um mestre de cerimónias mitológico.
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Quando em março, com o país sujeito a um confinamento geral, Mónica Guerreiro assume as rédeas do destino do Coliseu Porto Ageas, imediatamente teve de assumir a decisão de cortar com "uma tradição com 79 anos, ou assumir o risco enorme de montar o Circo de Natal sem saber as liberdades e as condicionantes que iriam existir em dezembro". A duas semanas da estreia ainda não o sabe.
O peso histórico acabou por ser mais forte e o Circo vai voltar ao Coliseu, a partir de 11 de dezembro e até 3 de janeiro, como manda a tradição, mas com espaço para inovações. Sem intermediários na direção artística, passou à escolha das trupes com o objetivo de ter "um formato de gala, de circo tradicional, com diferentes técnicas e disciplinas circenses". Objetivo: "Dar um passo num sentido dramatúrgico poético, como as narrativas do Cirque du Soleil".
Para essa premissa era ponto de honra ter música ao vivo, para a qual contrataram o compositor Filipe Raposo, "que tem feito um destacado trabalho para cinema", para criar uma banda sonora para o circo e uma orquestra.
Haverá duas formações orquestrais neste espetáculo, tocando em sessões alternadas, "um ensemble como uma orquestra de câmara, um de cada naipe, dirigidos pelo maestro Cesário Costa", explica Filipe Raposo.
Patchwork musical
O processo de composição da música foi uma espécie de "bumerangue, enviava coisas aos artistas, para cada um dos números e eles devolviam com mais ideias", de forma a criar "uma linha narrativa sonora que dramaturgicamente unisse todo este patchwork", comenta o compositor.
"Foi muito desafiante, porque há um respeito simbólico no domínio social. O circo é um local de sonho e de limite e metamorfose das capacidades humanas".
Se a escolha do compositor foi relativamente simples, o mesmo não aconteceu com as trupes. "De repente tínhamos toda a gente disponível para trabalhar. E quando o Circo do Coliseu dos Recreios cancela o espetáculo, aumentou muito a pressão sobre o nosso, porque estas pessoas estavam sem trabalhar há muito tempo", explica Mónica Guerreiro.
Partindo com um espírito de missão decidiram fazer uma pesquisa, do Norte ao Sul, de artistas nacionais ou que trabalham e vivem em Portugal. Tendo como catálogo a categoria de circo e artes de rua da Direção-Geral das Artes.
O mestre de cerimónias escolhido foi o português Rui Paixão, reconhecido internacionalmente por ter trabalhado e criado uma personagem para o Cirque du Soleil, no que viria a ser a última grande digressão da companhia canadiana, arrastada para a bancarrota devido à pandemia.
Sem desvendar surpresas, Rui Paixão previne que não vai ser um apresentador tradicional, tendo criado "uma personagem inspirada pela cidade do Porto, que tem vindo a carimbar artisticamente os "ismos", como o racismo, a cultura queer. Por isso criei um minotauro, um monstro que não tem culpa de sê-lo, e todos se unem para vê-lo no labirinto, onde os excluídos têm voz".