
Boa disposição de Dianne Reeves ao longo da atuação contagiou a plateia
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Lembrando Gal Costa e confessando a paixão por Milton Nascimento, a cantora americana encantou a plateia no concerto que marcou o arranque da edição deste ano do Guimarães Jazz.
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O Guimarães Jazz dedicado a celebrar as vozes do género não podia ter começado melhor do que com o concerto de Dianne Reeves, a encher por completo o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, na noite de quinta-feira. A diva, natural do Michigan, e a sua banda tiveram uma atuação vibrante, a contagiar de boa disposição as 800 pessoas que foram ouvi-los.
Dianne Reeves é uma voz incontestada do jazz, como atestam os cinco Grammys com que as suas performances vocais já foram distinguidas. Ninguém teria dúvidas disso quando comprou o bilhete para ver a cantora no arranque do 31º Guimarães Jazz. Todavia, para os mais desatentos, que a sua banda tivesse um virtuosismo que valeria, só por si, a ida ao Vila Flor, pode ter sido uma surpresa.
Foi o quarteto que tomou conta do palco no momento inicial, para pôr a plateia "in the mood". A música evolui em crescendo até que no público havia quem já não aguentasse mais e irrompiam palmas aqui e ali. Com a inquietude já instalada nos corpos presos às cadeiras, entrou a esperada. O número inicial foi a apresentação da banda cantarolada, assim como se não fizesse parte do alinhamento, como se não fosse música. Mas é tudo parte do show, e quem conhece os concertos de Dianne Reeves sabe que ela é toda música, mesmo quando fala para a plateia.
"Dreams", "Minuano", "I remember", "I"m all smilles", foram para elevar público a um estado de rendição necessário para admirar "Skylark". Uma primeira parte sempre em crescendo. A cumplicidade entre Dianne Reeves e Romero Lubambo - de que ela falou - é evidente na forma como a cantora fala com o guitarrista brasileiro em palco. Ela usa aquela língua própria só sua, mas que todos os que escutam compreendem, e ele responde com solos de guitarra arrepiantes. Os dois ocuparam o palco a sozinhos durante vinte minutos deliciosos.
Na parte final do concerto, houve tempo para uma homenagem a Gal Costa. Os verso "sad is to live in solitude" de "Triste" ganhou aqui um novo significado. Dianne Reeves confessou a sua devoção a Milton Nascimento. Antes do final, dois momentos altos: quando a cantora desafiou o público a acompanhá-la nas suas improvisações melódicas e uma nova apresentação da banda, com direito a solos rasgados. Edward Simon, piano, Romero Lubambo, "my brother from another mother", na guitarra, Reuben Rogers, no contrabaixo e Terreon Gully na bateria. "Do you like my band?"- rebebeu palmas como resposta. "Do you love my band?" - levantou a plateia e arrancou uma enorme salva de palmas para não haver dúvidas.
A despedida do palco foi a cantar "a capella", com Romero a acompanhar na guitarra acústica, provando que, aos 66 anos, a voz que se inscreve junto de nomes como Nina Simone ou Ella Fitzgerald continua lá.
A noite prosseguiu no Café Concerto do Vila Flor, onde Victor Garcia e seu grupo animaram a jam da noite. Uma nota negativa para o desconforto de a organização barrar as pessoas que tinham estado do concerto do Grande Auditório, obrigando-as a subirem às bilheteiras para trocarem os bilhetes por outros para o segundo momento da noite. O trompete de Garcia deu o mote e o piano de Ben Lewis acompanhou. Os dois abriram espaço para a voz de Jill Katona. Megan McNeal foi a segunda convidada da noite e deu ao Café Concerto, medianamente povoado, um ar de filme "noir", com a sua voz aveludada. A noite prosseguiu, como é habitual nestas jam, com os alunos da ESMAE a tomarem conta do palco, à medida que os músicos profissionais foram criando espaço para os mais novos.
