Porto é o epicentro do festival que traz 27 espetáculos também a Gaia e Matosinhos, de 23 de abril a 5 de maio. Acontecimento inédito: vai ser possível dormir no Teatro Rivoli na noite de 24 para 25 de abril. Codiretora do Rivoli, Cristina Planas Leitão, destaca peças favoritas.
Corpo do artigo
Três cidades, 17 palcos e 27 espetáculos que incluem 9 estreias absolutas e 13 estreias nacionais. Eis a quantidade do DDD – Festival Dias da Dança, que cumpre a sua 8.ª edição entre 23 de abril e 5 de maio. Já a sua qualidade é o modo como se associa à celebração dos 50 anos do 25 de Abril, integrando no programa o espírito da revolução – quebra de convenções, novos formatos e abertura ao Mundo, com o certame a coproduzir seis espetáculos internacionais e a associar-se a quatro redes europeias (Big Pulse Dance Alliance, Visiting Artists Program, Impact e Grand Luxe), numa relação que dará frutos já este ano.
O desejo de Rui Moreira, autarca do Porto presente na divulgação do programa, é que a dinâmica e crescimento do festival não sejam perturbadas pelo fim dos ciclos autárquicos no próximo ano.
Para já, o cartaz acolhe nomes como Jan Martens, Jefta van Dinther, Alice Ripoli, Renato Mangolin, Catarina Miranda, Jeremy Nedd, La Chachi, Radouan Mriziga ou Kate Mcintosh, que levarão as suas criações a lugares como o Teatro Rivoli (centro do festival), Serralves, Coliseu do Porto, Teatro do Bolhão, Praça D. João I, Rua Escura, Teatro Constantino Nery, marginal de Matosinhos ou Varais da Afurada, em Gaia.
Haverá espetáculos de duração hiperbólica, propostas que envolvem o público, performances na rua, festas, caminhadas e a possibilidade de dormir no Rivoli na noite de 24 de abril (ver caixa). Haverá ainda debates e instalações promovidas pela UNA – União Negra das Artes, que prossegue a missão de “promover a elevação e fortalecimento da representatividade negra no setor artístico português”.
Dois espetáculos masculinos em destaque
Perante tão vasta oferta, pedimos a Cristina Planas Leitão, codiretora do Teatro Rivoli com Drew Klein, que nos sugerisse espetáculos imperdíveis. “Dois de homens e dois de mulheres, ok?”, respondeu.
Logo na abertura do festival, dia 23, e repetindo a 24, o Rivoli acolhe “Remachine”, do coreógrafo sueco Jeftha van Dinther, que “explora a interação entre os humanos e um ambiente hiper mecanizado”. Uma semana depois, a 29 e 30 de abril, também no Rivoli, foco em “Voice noise”, do belga Jan Martens, que recupera “vozes femininas inovadoras, desconhecidas e/ou esquecidas dos últimos 100 anos da história da música”.
E duas peças femininas
Passando ao setor feminino, Planas Leitão recomenda “Atsumori”, de Catarina Miranda, que sobe ao palco do Teatro Campo Alegre a 30 de abril e 1 de maio. Partindo de uma peça do teatro nõ japonês, o espetáculo cruza técnicas ancestrais e linguagens futuristas, vogando entre a memória e a prospeção. Incontornável será também “Flamenco para corpos não-flamencos”, da espanhola Maria del Mar Suárez (La Chachi), que traz uma visão revolucionária do flamenco, na linha de outros reinventores do género, como El Niño de Elche ou Israel Galván, ao Campus Paulo Cunha e Silva, no Porto, a 1 e 2 de maio. Depois, há mais 23 espetáculos para descobrir.
Dormir no Rivoli também é revolução
Um dos mais simbólicos momentos de celebração dos 50 anos do 25 de Abril no âmbito do DDD será a “Dormifestação”, uma ideia do catalão Roger Bernat, que propõe, após o espetáculo das 23.30 horas, a 24 de abril, que o público durma no Teatro Rivoli, acordando para o “dia inteiro e limpo” numa cama disponibilizada pelo festival.
O acontecimento serve também de alerta para o problema da habitação: “Estamos a viver a odisseia da habitação e agora é a vez de fazer a revolução dos telhados”, diz Bernat.