A partir de hoje e até 4 de maio, o DDD – Festival Dias da Dança volta a ocupar os palcos do Porto, Matosinhos e Gaia. A nona edição traz 27 espetáculos – 19 em estreia absoluta ou nacional – com histórias de migração, trabalho, género e identidade, nas suas formas mais cruas, delicadas e transformadoras.
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A abertura acontece no Teatro Rivoli, com a estreia nacional de “Os gigantes”, de Victor Hugo Pontes & Dançando com a Diferença, inspirado no derradeiro texto inacabado de Pirandello. No mesmo dia, às 19.30 horas, o Palácio do Bolhão recebe “Fugaces”, de Aina Alegre – uma revisitação dançada do legado flamenco de Carmen Amaya.
Amanhã destaque para o regresso de Gaya de Medeiros com “Cafézinho”, no Auditório de Gaia, e a estreia absoluta de “Musseque”, de Fábio (Krayze) Januário, na mala voadora, peça que mergulha nas raízes do kuduro.
No feriado do 25 de abril, o DDD espalha-se por várias frentes. Em Matosinhos, o Teatro Constantino Nery recebe “OU”, criação de André Braga & Cláudia Figueiredo com Panaibra Canda. No Porto, Be Dias estreia “RE.SET a metaphor for my queer emancipation” na CRL – Central Elétrica, enquanto no Campo Alegre, “Durarei por paz e nunca por mal”, de Mélanie Ferreira & Daniel Matos, ocupa o Café Teatro. No mesmo espaço, a coreógrafa Vânia Doutel Vaz revela a estreia de “violetas”, um convite à resistência íntima.
O primeiro sábado traz mais novidades. Jo Castro mostra “LABIA” na CRL, enquanto Ana Rita Xavier & Daniel Conant estreiam “Beautiful” no Campo Alegre. À noite, o TMP Café transforma-se em pista de dança com a festa-performance “Solte a sua fera”, do Coletivo Afrontosas.
Fôlego até ao fim
Dia 29, a programação atinge novo fôlego: “KING SIZE”, de Sónia Baptista, estreia-se no Teatro de Matosinhos; “C.C. Crematística e Contraforça”, de Vera Mantero & Cúmplices, ocupa o Rivoli; e “Friends of Forsythe”, chega ao Auditório do Campo Alegre, numa ode à diversidade das linguagens da dança. No mesmo dia, Cristian Duarte apresenta “e nunca as minhas mãos estão vazias” no Café Teatro.
A 2 de maio, o Palácio do Bolhão recebe Marcelo Evelin com “Bananada: Operantípoda (parte I)”, uma ópera trópico-futurista para oito intérpretes. No Auditório de Gaia, Ana Isabel Castro estreia “Adoçar”, meditação física sobre a limpeza e o cuidado.
Dia 3, chegam dois momentos altos: “Magic Maids”, de Eisa Jocson & Venuri Perera, estreia no Campo Alegre com uma desconstrução dos corpos colonizados no trabalho doméstico; e “Vaivém”, de Camilo Mejía Cortes, traz o corpo latino-americano da salsa ao Teatro de Matosinhos. Ainda nesse dia, em Serralves, André Uerba apresenta “Æffective Choreography”; Ídio Chichava estreia “Vagabundus” no Campo Alegre, e no Rivoli, o coletivo KOR’SIA encerra com “Mont Ventoux”, uma viagem coreográfica ao passado e ao futuro inspirada em Petrarca.
A 4 de maio, o festival fecha com uma festa no TMP Café – uma celebração que cruza corpos, processos e vozes, selando doze dias de dança que transcende o palco.
Corpo + Cidade volta a habitar nas ruas com balleteatro
Há corpos que chegam como quem pergunta. Corpos que caminham devagar, que observam, que tocam no chão com os pés e com o gesto. A partir desta sexta-feira e até 4 de maio, o programa Corpo + Cidade volta a habitar as ruas do Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia. Uma proposta do balleteatro, que transforma o espaço público num lugar de escuta, partilha e transformação.
Joana Couto e Leo Calvino abrem o programa com “Budô”, na Praça Guilherme Pinto. Um combate delicado entre arte marcial e gesto poético. No dia seguinte, Helder Seabra ocupa o Mercado do Bolhão com “Echoes of the Void”, onde o vazio se torna matéria coreográfica. A 27, Elizabete Francisca leva o seu corpo-besta ao Parque da Lavandeira, inspirada por Elza Soares.
Muito para ver
O segundo fim de semana começa a 2 de maio com Pedro Ramos, no Parque das Águas, numa coreografia meditativa entre raízes e galhos. A 3, Max Oliveira apresenta “P_Z_L_S” no Parque da Pasteleira, um puzzle vivo entre tradição e dança urbana. A despedida é com Elisa Miravalles, no Bairro de São Victor. “Encontros Instáveis” transforma madeira em extensão do corpo, entre arquitetura e fragilidade.
É sempre assim: quando o corpo se desloca para fora do palco e entra na cidade, tudo muda. Não há cortinas nem marcas de luz. Há chão irregular, há vento, há espanto. Este ano, o convite é claro – dançar com e para os outros, ocupar com cuidado e sensibilidade os interstícios urbanos. Todas as performances são de acesso livre, devolvendo o gesto artístico à rua, onde tudo começou.