Fundação Ilídio Pinho, no Porto, adquiriu o documento que outorgou o galardão ao poeta e cronista em 2011 para cedê-lo de seguida à Universidade do Porto. Contrato de comodato é assinado esta quinta-feira.
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Doze anos depois, o diploma da atribuição do Prémio Camões a Manuel António Pina “chega ao lugar certo”, nas palavras dos próprios familiares do escritor. É na Casa dos Livros – Centro de Estudos da Cultura da Universidade do Porto, rodeado por outros importantes acervos literários, como os de Vasco Graça Moura, Eugénio de Andrade ou Ana Luísa Amaral, que o documento vai ser depositado, juntando-se ao acervo digital do poeta, falecido no Porto em 2012, que já se encontra nas suas instalações há três anos.
O contrato de comodato, que é assinado esta quinta-feira no Palacete Burmester, no Porto, com a presença já confirmada de muitos dos amigos mais próximos de Pina, tem a duração de cinco anos, mas prevê a sua renovação de forma automática.
Na posse da família, o diploma foi adquirido pela Fundação Ilídio Pinho, assim que soube que estava disponível. “Foi uma operação muito rápida. O engenheiro Ilídio Pinho tomou a decisão em 30 segundos”, revelou Carlos Magno, consultor da Fundação, que há vários anos tem encetado esforços para que o acervo do escritor possa vir a fazer parte da Casa dos Livros.
A aquisição foi concretizada com a garantia da sua cedência imediata à Universidade do Porto, cuja vice-reitora, Fátima Vieira, afirmou ao JN que o comodato se inscreve na missão da Casa dos Livros de “preservar e disponibilizar novos lugares da memória”.
Mais associada às artes plásticas, sendo detentora daquela que é considerada por muitos a mais importante coleção portuguesa de arte contemporânea e moderna, a Fundação Ilídio Pinho desenvolve também um papel noutras áreas da criação. No ano passado, instituiu um prémio literário no valor de 100 mil euros – verba idêntica à do Prémio Camões –, que premiou José Tolentino Mendonça pela sua obra no campo da poesia e do ensaio.
Uma longa espera
O diploma, que a partir de agora pode ser consultado publicamente, nunca chegou a ser entregue oficialmente a Manuel António Pina. Apesar de a decisão ter sido tomada de forma unânime por um júri do qual faziam parte os portugueses Rosa Maria Martelo e Abel Barros Baptista – numa reunião que não demorou mais de meia hora, a mais rápida do historial do Prémio Camões –, a cerimónia de entrega do galardão ao poeta nunca chegou a ter lugar.
Se, no caso recente de Chico Buarque, foram as divergências políticas do anterior presidente brasileiro Jair Bolsonaro que ditaram o adiamento da sessão até há poucos meses, nesta situação a conjuntura da época terá sido o fator decisivo que explica os sucessivos protelamentos.
Nos anos de 2012 e 2013, não só Portugal estava sob uma gestão draconiana da “troika”, que concentrava os esforços dos governantes, como a presidente brasileira da época, Dilma Rousseff, enfrentava um processo de “impeachment” que limitou em muito o exercício normal do seu mandato.
Por isso, a cerimónia só teria lugar um exato ano depois da morte do autor de “Como se desenha uma casa“, numa cerimónia discreta realizada na Cooperativa Árvore, no Porto, com a presença do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e dos seus familiares mais chegados.
É para “limpar esse episódio lamentável, injusto para a memória de Manuel António Pina”, segundo o jornalista Carlos Magno, que o diploma vai poder agora estar à distância de uma visita à Casa dos Livros.
Acervo de Ana Luísa Amaral é o próximo
Enquanto isso, a biblioteca e o acervo de Ana Luísa Amaral (1956-2022) vão ser integrados na Casa dos Livros, ao abrigo de um protocolo de comodato que vai ser assinado esta sexta-feira.
Para a vice-reitora da Universidade do Porto, Fátima Vieira, o Centro de Estudos da Cultura da UP é “a solução lógica” para albergar um “acervo monumental” que será “um instrumento de trabalho valioso para um estudo amplo da sua obra”.
A cerimónia de assinatura do contrato tem lugar no mesmo dia em que vai arrancar oficialmente um ambicioso programa comemorativo.
Figura Eminente do ano letivo 2023/2024 na universidade portuense, Ana Luísa Amaral será evocada através de iniciativas que percorrem o campo literário mas também o académico e científico. Na sessão inaugural está prevista uma mesa redonda em torno da sua obra e a exibição de um filme inédito.
Ana Luísa Amaral foi docente e investigadora da UP durante três décadas, tendo sido a responsável pela criação do Centro de Estudos Femininos..