Viúva da artista brasileira tem impedido o acesso ao espólio, segundo a acusação de vários agentes.
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Um imbróglio judicial em torno da cantora Gal Costa, envolvendo a sua antiga companheira, pode, no limite, impedir a circulação futura de obras da artista brasileira e a sua utilização em filmes, peças de teatro ou outras manifestações artísticas.
A possibilidade foi levantada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, que dá conta da ação judicial interposta por Wilma Petrillo para ver reconhecida pela justiça a relação sentimental de 24 anos mantida com a artista, falecida em novembro do ano passado, na sequência de um enfarte de miocárdio.
Além de reclamar a guarda do filho adotivo, hoje com 18 anos, Wilma Petrillo pretende ainda administrar a obra e ter a responsabilidade sobre o inventário.
Numa primeira instância, os tribunais alegaram a inexistência de documentação para validar as pretensões da viúva, solicitando que o filho fizesse uma declaração onde reconhecesse o relacionamento.
Entre os bens deixados por Gal Costa está um catálogo de canções, que, a confirmar-se a pretensão da antiga companheira, passará a ser administrado pela também empresária, sobre quem, segundo a imprensa brasileira, recaem vários processos judiciais.
Apesar de a justiça ainda não se ter pronunciado sobre a legalidade dos intentos de Petrillo, vários agentes culturais queixaram-se de, nos últimos meses, terem deixado de conseguir acesso a material relacionado com a autora de discos como “Água viva” e “Aquele frevo axé”.
Isa Grinspum Ferraz, organizadora da exposição “Utopia Brasileira: Darcy Ribeiro 100 anos”, explicou à imprensa que tentou por diversas vezes incluir uma fotografia de Gal Costa nos anos 1970 na obra “Constelação”, uma colagem de imagens com nomes da cultura brasileira, mas viu as suas intenções barradas.
“Tentámos de tudo, mas os nossos contactos nunca foram respondidos e não pudemos incluir essa foto”, lamentou.
Iniciada em 1967, com “Domingo”, a obra de Gal Costa é composta por 40 discos, o mais recente dos quais, “Nenhuma dor”, foi lançado no ano anterior à morte da artista.
Na década de 1970, a influente revista norte-americana “Time” considerou Gal Costa uma das dez melhores cantoras do mundo. v