<p>O prazer que extraímos das viagens talvez dependa mais do estado de espírito com que as empreendemos do que do destino escolhido, como diria o avisado Xavier de Maistre, que, em 1794, editou "Viagem à voltado meu quarto". Mas, partindo do pressuposto de que, quando se viaja em férias, é por puro prazer, concedemos que o estado de espírito estará sintonizado para desfrutar cada momento. </p>
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Por isso, chegados a Buenos Aires (a capital da Argentina, para os menos atentos em matéria de geografia), nada como cumprir o ritual dos milhões que já por ali passaram e fazermos a fotografia da praxe, junto ao obelisco que se ergue na Avenida 9 de Julio. Os turistas parecem adorar, mas o aclamado escritor, pensador, poeta e bibliófilo Jorge Luís Borges, que viveu muito perto dali, dizia que ele era "a coisa mais feia que o ser humano já havia construído". Gostos não se discutem, já diz o povo na sua incomensurável sabedoria.
Estamos, pois, em Buenos Aires, o vírus da gripe A(H1N1) anda muito activo e por isso evitemos uma visita ao estádio de futebol mesmo que seja para ver em acção a selecção argentina a ser treinada por Maradona. Optemos antes pela esplanada do Cafe Tortoni, o mais antigo da cidade, ainda em funcionamento. Talvez na mesma cadeira onde agora nos sentamos tenham estado o próprio Jorge Francisco Isidoro Luís Borges, a inspirar-se nos sons, nos cheiros, nos jacarandás e no fervilhar da capital para escrever o seu "Fervor de Buenos Aires", um hino à cidade do então poeta estreante. Também não é de estranhar que se oiça uns excertos de tango (um qualquer tema de Astor Piazzolla) ou, quiçá, a voz de Carlos Gardel a cantar "Mi Buenos Ares querido".