Até 18 de maio, no Teatro Variedades fala-se de inclusão, empatia a superação. Ricardo Carriço e Rita Ribeiro são protagonistas.
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“É uma lição de vida”, resume-nos o ator Ricardo Carriço, sobre a história que se está a contar, todas as noites, no Teatro Variedades de Lisboa, até dia 18 de maio. Com texto e encenação de Tiago Torres da Silva e apoio da Associação Salvador, “Do outro lado do muro” é um olhar realista e sensível sobre a inclusão de pessoas com deficiência motora. Rita Ribeiro e Baltasar Marçal co-protagonizam uma peça que quer ser um veículo para a reflexão, para a quebra de estigmas e mudança de mentalidades e onde são palavras de ordem empatia e esperança.
Pode o teatro ter um papel na inclusão? Foi a pergunta-base do desafio que Tiago Torres da Silva e Ricardo Carriço abraçaram, com uma clara motivação: a de mostrar a vida além das adversidades e como ela pode seguir, ser renovada; como um acidente ou imprevisto muda radicalmente um quotidiano mas não tem de apagar aspirações, afetos, vida íntima, rotinas.
No caminho, quis-se explorar o poder do teatro como ferramenta de empatia e inclusão, ao contar a história de alguém que, ao passar a deslocar-se numa cadeira de rodas, se depara com novos obstáculos. “A ideia surgiu ao comigo e com o Ricardo [Carriço]”, explica o encenador ao JN. “O Ricardo é muito próximo da Associação Salvador, e eu sempre tentei que o teatro desse voz aos que não a têm. E houve uma frase, uma espoleta, que foi o Salvador dizer-nos ‘eu sou uma minoria que não consegue chegar ao grande público’”, refere. Salvador Mendes de Almeida, que aos 16 anos sofreu um acidente de mota que o deixou tetraplégico, o fundador da Associação que luta há anos pela inclusão das pessoas com deficiência motora, foi inspiração e acompanhamento.
Tiago viu o desafio: levar para cena “a deficiência de uma maneira diferente, falar sobre quantas vidas se podem criar apesar dos problemas, porque todos nós temos algo que nos tolhe os movimentos, às vezes é interno. E, portanto, fazer uma coisa que partindo da deficiência motora se tornasse mais ampla e falasse sobre o que nos aprisiona; e sobre como podemos, apesar das grilhetas, criar uma nova vida e até alegria, mesmo nos momentos maus” refere.
A peça fala de esperança, reitera, e destas lutas internas, até do papel da música, mas também desafia “a pensarmos sobre como podemos tornar mais fácil a vida dos outros”, mudando “pequenas coisas que significam muito”, para quem está fisicamente limitado.
Em cena, o personagem Rodrigo (Baltasar Marçal antes, Carriço depois), é confrontado com um acidente, que o leva numa jornada de autodescoberta. No protagonismo há um dado importante: “a dado ponto o personagem caminha”, explicam, “senão, poderíamos ter contratado um ator com deficiência motora, mas aqui não era possível”.
Segundo Ricardo Carriço, para quem a deficiência é uma realidade próxima ao ter uma familiar com uma incapacidade e que é “um exemplo de amor, alegria e carinho, que distribui por todos e toca a todos”, a peça, acima de tudo, é uma “experiência”, a tal “lição de vida” que os intervenientes querem levar, depois de Lisboa, em tour por todo o país.