Diretor do Batalha Centro de Cinema, no Porto, Guilherme Blanc faz balanço positivo do edifício que reabriu em 2022. E admite pouca autonomia na gestão de recursos humanos.
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“Há uma ideia de futuro em processo, mas atingimos já uma regularidade na operação que se traduz na qualidade e diversidade de programas e também nos números.” É a síntese de Guilherme Blanc, diretor do Batalha Centro de Cinema, no Porto, sobre os primeiros dois anos de atividade do equipamento que renasceu a 9 de dezembro de 2022.
Ciclos temáticos, retrospetivas de cineastas, acolhimento de festivais, abertura internacional, relação com escolas e apoio ao cinema português. Foram alguns dos vectores deste espaço de possibilidades – que não é só um cinema, nem um arquivo, “é um lugar cultural onde se desenvolve uma relação do cinema com diferentes públicos, dentro e fora das salas, no interior do edifício e no espaço público”, diz Blanc.
Entre os aspetos mais auspiciosos de um “projeto jovem, ainda com dores de crescimento, mas com um rumo definido”, o diretor do Batalha salienta a chegada a diferentes segmentos de público: “Há quem venha ver filmes clássicos dos anos 1950, os que se interessam por cinema de autor, pelas novas tendências ou pelos filmes portugueses.”
A criação de cursos de crítica e grupos de cinefilia, diz o responsável, gerou novas comunidades que frequentam o Batalha. E a relação com a indústria, através de iniciativas como Novos Encontros do Cinema Português, que juntam profissionais da produção, distribuição e exibição, além de um papel na divulgação do cinema feito no Porto, tornam o equipamento ator relevante no setor.
A relação com os festivais, diz Blanc, tem sido mutuamente fértil: “Importantes certames da cidade, como o Fantasporto ou o Porto Post Doc, têm encontrado no Batalha um lugar de serenidade e crescimento. É uma relação orgânica, em que as duas equipas, a do Batalha e a dos festivais, se fundem.”
No plano internacional, o diretor assegura que o edifício logrou “reputação expressiva”, concretizada em coproduções com o British Film Institute, ICA London, Wiels – Contemporary Art Centre, de Bruxelas, ou a Fondazione In Between Art Film, de Itália. Filmes comissariados pelo Batalha, como a curta-metragem de Basil da Cunha, “2720” – que venceu o prémio da crítica do mais antigo festival de curtas do Mundo, o Oberhausen, na Alemanha, e foi nomeado no European Film Awards –, fazem caminho no circuito de festivais e de eventos como a Bienal de Veneza.
Sobre o que falta ainda afinar e desenvolver no Batalha, Blanc diz que “o desafio principal é manter o projeto num alto nível de rigor e ambição”. Fala na necessidade de “expandir possibilidades e potenciar limitações”. Dá atenção a aspetos como acessibilidade, conforto e temperatura, “uma vez que se trata de um local público, aberto todo o dia, onde há diferentes apropriações do espaço, nas salas, na biblioteca ou no bar.”
Como ponto final do balanço, o diretor destaca o papel da sua equipa, de cujo “empenho e dedicação depende o sucesso do Batalha”. Mas admite “pouca autonomia na gestão de recursos humanos”. “Essas ferramentas estão com a empresa municipal, a Ágora, e a relação é por vezes complexa. O bem-estar dos trabalhadores é fundamental para que o projeto se desenvolva”, avisa Blanc.
Público cresceu 20% em 2024
Os números apurados pelo Batalha até novembro mostram um aumento da média de espectadores por sessão na ordem dos 20%. Já no total de público que viu filmes nas duas salas do edifício, há também crescimento face a 2023, quando se registaram 41.984 espectadores entre janeiro e novembro, excluindo as sessões para escolas. No mesmo período de 2024 observa-se uma subida de 9% na afluência, contando-se 45.866 pessoas que procuraram a oferta do Centro de Cinema – onde corre, até 25 de janeiro, o programa “Mitologias”, com filmes de Fellini, John Ford ou João César Monteiro.