Mestres do indie-folk reiteram o seu brilho, com o novo "Double infinity".
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Se a música que soa a simples, pura, cristalina, fosse fácil, não carregaria a beleza que apenas alguns lhe conseguem conferir. Ao sexto disco, é possível afirmar que os Big Thief não sabem fazer mal: sem artifícios, com melodias despretensiosas, letras a contar histórias e a dissertar sobre a vida, existencialismos encapsulados, Adrianne Lenker, Buck Meek e James Krivchenia levam-nos em verdadeiras viagens musicais onde tudo é mais simples, puro e cristalino.
Acabado de editar e sucessor de "Dragon new warm mountain I believe in you", disco de 2022 nomeado para um Grammy, "Double infinity" é o 6º álbum de estúdio dos norte-americanos. Produzido por Dom Monks, colaborador de longa data, o disco foi construído no último inverno nos estúdios Power Station em Nova Iorque, com o trio a reunir nove horas por dia, com nove músicos, todos a tocar em simultâneo, a gravar em simultâneo, a improvisar arranjos e descobrir ideias, coletivamente.
Durante o processo, a banda deslocava-se de bicicleta até ao estúdio, gelando por entre as ruas nevadas, mas o resultado não saiu frio como o envolvimento, muito pelo contrário: é vivo, quente, acolhedor. Há a simplicidade das gravações que em casos se nota serem ao vivo, há arranjos que se adivinham um esforço coletivo, e há as letras: em torno do tema sobre os limites do que sabemos e o que acontecerá quando sairmos deste plano, a voz de Adrianne leva-nos a memórias de infância, como em "Incomprehensible", ou disserta sobre a importância relativa das palavras, em "Words"; despe os desejos do corpo, em "All night all day", fala nas preocupações do futuro, em "Grandmother", e transporta-nos a uma Califórnia nostálgica, em "Los Angeles".
Tudo, na voz, melodias, é um pouco nostálgico, remete-nos para o folk antigo, para outras alturas; é intemporal. E assim a alcança, a infinitude do título.