O ano era 1978. Em Birmingham, Reino Unido, os colegas John Taylor e Nick Rhodes uniam-se no sonho comum de criar uma banda que fizesse justiça ao som que os inspirava, de David Bowie a Bryan Ferry e aos Chic. Depois de vários castings, viriam a formar os Duran Duran originais: John Taylor no baixo, Rhodes nos teclados, Roger Taylor na bateria, Andy Taylor na guitarra - nenhum grau de parentesco une os Taylor -, Simon Le Bon na voz. Pequeno salto para os anos 80 e o grupo de pop-rock sintético, apanhando a onda da recém-criada MTV, com singles contagiantes e vídeos estilizados, tornou-se uma das maiores bandas daquela década de ouro da música, trilha sonora e referência para milhões de jovens - e depois para outras gerações.
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Mais de 40 anos depois, com 15 álbuns de originais, dezenas de temas no top, mudanças e regressos - sem esquecer uma pandemia logo após o último álbum, "Future past" -, os Duran Duran continuam na estrada e passam pelo Rock in Rio a 25 de junho, sendo um dos nomes mais esperados do cartaz. O JN falou com Roger Taylor.
Como é sair de dois anos de pandemia e voltar aos grandes palcos mundiais?
É muito entusiasmante. Eu sei que todos sofreram muito, mas para músicos e artistas foi muito difícil. Faz parte do nosso ADN estar em frente ao público e isso nunca nos tinha sido tirado desta forma, pelo que é incrível voltar.
Como passou esses meses de confinamento?
Penso que as pessoas tenderam a encarar isto de duas maneiras: ou aceitavam, numa perspetiva de vou-sair-da-passadeira-da-vida-e-acalmar; ou simplesmente não suportavam estar em casa. Eu faço parte do primeiro grupo. Aceitei o facto de que a situação ia durar e gostei de estar em casa, a passear o cão, comer, a levar uma existência mais simples. Mas estava ansioso por voltar.
Vários músicos referem que o regresso não é fácil. Falam de dificuldades físicas a ansiedades, até de músicas esquecidas. Como tem sido para si?
Sim, é verdade. Nós por sorte já tocámos uns concertos no ano passado, mas estávamos muito ansiosos, nervosos, tínhamos poucos ensaios, foi um ter de reaprender. Mas a reação do público foi inacreditável, as pessoas estavam histéricas e depois desse feedback tudo pareceu mais fácil. Penso que foi uma das coisas que as pessoas mais sentiram falta, estar juntas e apreciar música.
Há quem pense que "Tonight united", um tema do vosso álbum mais recente, "Future past", é sobre a pandemia e a necessidade de nos ligarmos depois dela, mas na verdade foi feito antes, certo?
É verdade. Penso que as pessoas a adotaram como uma canção pós-pandémica mas foi das últimas coisas que fizemos. Tanto que ao início não podia ser mais desadequada àquele momento, de mundo em confinamento.
Os Duran Duran já tiveram várias vidas, marcaram gerações. Como está a ser esta etapa?
Ótima. Às vezes acordo e não acredito que ainda aqui estamos. Eu juntei-me ao grupo com 19 anos, toco bateria há mais de 50. Há momentos em que me custa a acreditar que ainda esteja na mesma banda.
Em 1980 o Roger que entrou no grupo, alguma vez imaginou que estaria em 2022, mais de 40 anos depois, em palco com aquelas pessoas?
Se me dissesse isso eu diria que estava louca, porque eu achava que não podíamos durar nem uma semana. E o mais incrível é que saí da banda a dado ponto, durante 15 anos, e já se passaram 20 desde que regressei. Só reforça a nossa longevidade.
Qual é a fórmula? Como se conseguem manter atuais e relevantes quando o som que vende mudou tanto em 40 anos?
Acho que é não ter medo de mudar. Não descansar sobre os louros, arriscar. E muito trabalho duro. Já estive noutros projetos em que os músicos passavam o tempo no pub mas aqui somos muito focados. E também muito democráticos. Valorizamos a participação uns dos outros.
Uma das coisas que mudou foi a própria maneira como ouvimos música. São adeptos do streaming ou continuam a preferir discos?
O streaming na verdade foi muito bom para nós porque sempre que lançávamos uma música ou disco, ele passava primeiro pelo filtro dos jornalistas, pela opinião deles - e a verdade é que nunca tínhamos críticas boas no início. E quando veio o mundo digital, as pessoas começaram a aceder e ouvir a música sem o preconceito ou a opinião prévia e isso abriu-nos a imensas pessoas de todas as idades. Ainda me surpreendo com os mais novos que vejo no público e que sabem todas as canções. É uma das melhores coisas.