Após semanas com a mochila às costas em comboios e em autocarros desde Nova Iorque, eis finalmente a costa oeste. Uma viagem adorável, mas cansativa, a absorver a beleza mas também a inevitável contradição dos Estados Unidos, cuja riqueza a olho nú é bem menos impressionante que a pobreza.
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Inesquecível o episódio em que fomos convidados a sair de um restaurante em Harlem - dois clientes negros com um maço enorme de notas na mão avisaram-nos que ali os brancos não comiam -, assim como a explicação de um norte-americano universitário, que a caminho de Flagstaff, nos garantiu que Amesterdão tinha 72 horas (três dias!) de diferença horária para Dallas. Chegamos finalmente a São Francisco, jogava-se futebol no Lafayette Park. Mexicanos, brasileiros, chilenos, tudo ao molho atrás de uma bola. Acabei por levar uma sarrafada valente de um... português! Ficámos num "hostel" para malta nova. À entrada, um anúncio chamou à atenção. Jogo Oakland A´s - Los Angeles Anaheim. Preço único para não norte-americanos: cinco dólares. Lá fomos para mais uma experiência da "american way of living". Alugámos bicicletas, pedalámos na Golden Gate, apanhámos um comboio e lá está o Coliseum. Uma desilusão. O jogo, claro. Porque o resto foi uma animação. Os espectadores passam mais tempo a conversar e a comprar "hot dogs" do que a ver aquela maçada do basebol. O "ritmo" é interrompido se alguém acerta lá em baixo com o taco, mas a emoção resume-se a aplausos. Tudo era engraçado até ver quatro adeptos do rival, a equipa de LA, a atravessar a bancada do conjunto da casa. Pior aconteceu, pensei eu, quando um deles provocou. "Cambada de perdedores!". Não houve a mínima reacção, parecia um filme cómico, no máximo houve alguém que fez "uuuhhh". Ríamo-nos à gargalhada ao lado de dois ingleses. "Ai se fosse um Manchester United - Liverpool", disseram. E eu para os meus botões. "E um Benfica-F.C. Porto???". É uma América tolerante no desporto, mas cruel no quotidiano. No regresso, estava alguém no chão, morto pela polícia. Estranhamente, tudo parecia habitual aos olhos dos habitantes.