O bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco coincide com os 180 anos de Eça de Queiroz. A Associação Portuguesa de Escritores, em parceria com a Cinemateca Portuguesa, junta os dois autores, organizando uma mostra de filmes a que chamou Literatura e Cinema - Intermedialidades. O evento, coordenado por Luiz Machado, Secretário-Geral da APE, arranca hoje e inclui um jantar com uma ementa queirosiana.
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Logo ao fim da tarde, pelas 18 horas, na Sala Luís de Pina da Cinemateca Portuguesa, será exibida a cópia recentemente restaurada por aquela instituição de "O Primo Basílio", de António Lopes Ribeiro, adaptação cinematográfica da obra homónima de Eça de Queiroz.
A obra de Eça já tinha sido adaptada ao cinema em Portugal em 1923, ainda no período mudo, numa realização do francês Georges Pallu, contratado pela portuense Invicta Film, dupla que dois anos antes já apresentara a primeira versão de "Amor de Perdição", de Camilo Castello Branco. Curiosamente, a obra de Eça seria também alvo de uma versão mexicana, produzida em 1935.
O filme de António Lopes Ribeiro, produzido em 1959, tem a sua ação a decorrer em Lisboa, em 1876. Durante a ausência do marido, um engenheiro de minas, Luísa deixa-se seduzir por Basílio, um parente com quem rompera anos antes, e que fora para o Brasil. Juliana, a criada de Luísa, faz chantagem com umas cartas comprometedoras...
A personagem de Basílio serve que nem uma luva a António Vilar, que tem aqui um dos seus mais conhecidos papéis de galã. Ao seu lado, como Luísa, António Lopes Ribeiro contou com uma estrela internacional, a francesa Danik Patisson. O elenco do filme conta ainda com Cecília Guimarães numa inesquecível Juliana e João Villaret no papel de Sebastião.
Logo a seguir à sessão, pelas 20h30, o restaurante 39 Degraus, da Cinemateca Portuguesa, conta com um Cine-Jantar, com uma ementa queirosiana onde se evoca a ceia em Tormes descrita em "A Cidade e as Serras". Seguir-se-á um debate, moderado por Luís Machado, em torno da vida e da obra de Eça de Queiroz, com a participação do embaixador António Monteiro, do ator Rui Mendes, da investigadora e ensaísta Maria do Rosário Lupi Bello e do gastrónomo Virgílio Nogueiro Gomes.
Para abrir o apetite para este Cine-Jantar, a ementa é constituída por Canja de Galinha à Jacinto, Cogumelos Gratinados à Parisienne como entrada, Arroz Malandrinho de favas com Frango Alourado à moda de Tormes como prato principal, seguido de Leite Creme Queimado como sobremesa. As inscrições para participar no Cine-Jantar estão ainda aberta e os interessados deverão contactar a Associação Portuguesa de Escritores.
O ciclo prossegue na próxima terça-feira, dia 22, com a exibição às 17h30, na Biblioteca do Palácio de Galveias, de "O Dia do Desespero", de Manoel de Oliveira, numa sessão apresentada por José Manuel Mendes.
A obra de Oliveira, que já adaptara fielmente o "Amor de Perdição", foi realizada em 1992 e evoca os últimos dias de Camilo Castelo Branco e a cegueira que o levou ao suicídio. No papel do escritor, Mário Barroso retoma a personagem que já interpretara num outro filme do mestre portuense, "Francisca", baseado numa obra de Agustina Bessa-Luís.
Barroso, mais conhecido pelo seu trabalho como diretor de fotografia e realizador, asinaria já em 2008 "Um Amor de Perdição", adaptação livre e contemporânea da obra de Camilo. Em "O Dia do Desespero" é acompanhado por Teresa Madruga, como Ana Plácido, Luis Miguel Cintra, como Freitas Fortuna e ainda Diogo Dória no papel do Dr. Edmundo Magalhães.