Cantor britânico lança "Subtract" esta sexta-feira debaixo da ameaça de abandonar a música se for condenado no caso de plágio de uma canção de Marvin Gaye.
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Pode assumir uma estranha ironia o título do novo álbum de Ed Sheeran, que será lançado amanhã. Chama-se "-" ["Subtract"] e fecha o ciclo de trabalhos com símbolos matemáticos iniciado com "+", em 2011. É que o cantor ameaça "subtrair-se" da música caso seja condenado por plágio no processo movido pelos herdeiros de Ed Townsend, um dos coautores, com Marvin Gaye, do clássico "Let"s get it on" (1973), cujos acordes Sheeran é acusado de copiar no seu êxito de 2014 "Thinking out loud".
Os detentores dos direitos da música de Townsend reclamam cerca de 100 milhões de euros pelo alegado plágio, numa ação judicial movida em 2017 e que chegou ao tribunal federal de Manhattan, Nova Iorque, na semana passada. O cantor considera toda a situação "um insulto", alegando que o tema, escrito em parceria com Amy Wadge, se inspira em histórias da sua vida pessoal e familiar e que a referência musical mais direta é Van Morrison.
A equipa da acusação chegou a apresentar numa das audiências um vídeo, captado em Zurique, em que o britânico fazia uma rapsódia com os dois temas, considerando o registo uma "smoking gun" [prova conclusiva de um crime].
Mas o cantor de 32 anos, que replicou o "medley" de "Thinking out loud" e "Let"s get it on" em tribunal, ridicularizou a prova: "A maioria das canções pop encaixam umas nas outras. Se eu tivesse feito aquilo de que me acusam seria um grande otário ao denunciar-me perante 20 mil pessoas, tocando ingenuamente os dois temas", afirmou Sheeran, que explicou que é também possível fazer um "medley", ou "mashup", com "Let it be", dos The Beatles, e "No woman no cry", de Bob Marley & The Wailers. Acrescentou que essa é uma prática corrente nos seus espetáculos.
Ed fala em extorsão
O tribunal chegou a ouvir um especialista convocado pela acusação, que esmiuçou os primeiros acordes dos dois temas, considerando-os similares. Mas a defesa contrapôs que as "inegáveis simetrias estruturais das duas músicas apontam apenas para as fundações da música popular".
Sheeran, que já fora alvo de outra acusação de plágio em 2022 pelo tema "Shape of you", supostamente copiado de "Oh why", de Sami Switch, tendo sido ilibado, considera este tipo de ações uma tendência perigosa: "Está-se a gerar uma cultura de acusações infundadas, que visam extorquir dinheiro dos artistas, que muitas vezes preferem negociar um valor a ter que suportar as despesas de tribunal".
O cantor afirma estar a receber o apoio de importantes músicos internacionais, preocupados que o mesmo lhes suceda - mas sem revelar nomes. Certo é que tenciona abandonar a carreira se for declarado culpado neste julgamento que ainda continua.
Recorde outros casos famosos de plágio
The Beatles vs Chuck Berry
A banda inglesa foi acusada de copiar a letra e melodia de "You can"t catch me", de Chuck Berry, de 1956, no tema "Come together", de 1969. John Lennon chegou a admitir "plágio inconsciente" e o caso tornou-se um imbróglio, resolvido com acordo extrajudicial, que continua em sigilo.
Oasis vs The New Seekers
Os irmãos Gallagher enfrentaram uma ação judicial em 1994 pelas semelhanças entre "Shakermaker" e "I"d like to teach the world to sing", canção de 1971 dos The New Seekers. Também os The Rutles reclamaram violação de copywright no tema dos Oasis "Whatever".
Michael Jackson vs Manu Dibango
O tema de abertura de "Thriller", "Wanna be starting something", foi acusado de ser um clone de "Soul makossa", do cantor e saxofonista camaronês Manu Dibango. Jackson foi obrigado a pagar mais de 150 mil dólares por direitos de autor.
Lana Del Rey vs Radiohead vs Albert Hammond
A canção "Creep", dos Radiohead, deu origem a um caso de plágio bizarros. A banda acusou Lana Del Rey de copiar o tema em "Get free", mas foi também acusada de plagiar, na mesma canção, "The air that I breathe", música escrita por Albert Hammond e Mike Hazelwood em 1972.