Nova compilação em disco “Eels so good: Essential Eels, vol. 2 (2007-2020)” cobre um período de 13 anos na carreira da banda norte-americana.
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Arranca com um lobisomem em busca de sangue fresco e termina, 20 faixas depois, com uma melancólica – e inédita – canção de Natal. Bem vindos ao estranho Mundo de Mark Oliver Everett (ou apenas E), mentor e processador dos Eels, heróis do indie rock embaciado e combalido.
Treze anos de carreira e sete álbuns de estúdio se contemplam no recente “Eels so good: Essential Eels, vol. 2 (2007-2020)”, excelente porta de entrada para o universo da banda, que não dispensa a companhia da antologia prévia, “Meet the Eels: Essential Eels, vol. 1 (1996-2006)”.
Refinamento da lírica e das técnicas de estúdio, insistência nas obsessões de sempre. Assim se poderá cotejar a primeira fase dos Eels, iniciada ainda com os trabalhos a solo de E, e estreada em nome próprio com “Beautiful freak” (1996), com o período fixado na nova compilação.
Logo na trilogia de álbuns donde se extraem as primeiras faixas – “Hombre lobo” (2009), “End times” (2010) e “Tomorrow morning” (2010) –, os temas dominantes do desejo, amor desencontrado e divórcio parecem adensar os tons de “Blinking lights and other revelations” (2005), provavelmente o píncaro da banda, com letras mais diretas – “Adoro o teu sorriso, nunca falha no ludíbrio” – e um som mais fosco.
Apesar de alguma uniformização, com uma escolha de canções que revelam a faceta mais melódica dos Eels, nada é óbvio neste universo. Há uma evidente capacidade de erigir temas compactos e escorreitos, com uma arquitetura pop irrepreensível, mas também de introduzir impurezas, ruídos e distorções que sabotam a harmonia e expandem as possibilidades da canção.
O conteúdo é ambíguo, entre o abandono, a desconfiança e a ironia. Numa pastoral como “Little bird”, a delicadeza é interrompida por um excruciante “Goddamn”. Nunca se cai na fossa, mas a redenção parece sempre uma miragem.
Além dos álbuns, a compilação inclui músicas para filmes, como “Man up”, escrita para “Yes man” (2008), e “Royal pain”, que se ouve em “Shrek the third” (2007), e ainda três temas inéditos.