Estreia esta quinta-feira nas salas o novo filme do cineasta francês François Ozon, “O crime é meu”.
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François Ozon é um dos realizadores franceses de hoje mais prolífero e respeitados, conseguindo a rara proeza de assinar um filme quase todos os anos, privilégio do cinema dos grandes estúdios, quer de Hollywood quer mesmo do cinema francês e a verdade é que “O crime é meu” é uma homenagem, entre outros, a esses filmes do período áureo da história do cinema.
O filme evolui num assumido tom de artifício, com cenários e adereços pintados como novos e evoca também, com gosto e requinte, não só o cinema, como o teatro de comédia, na sua vertente policial.
No início do filme, depois de uma cortina de teatro se abrir, percebemos que houve um crime. A jovem que abandona o local, com a ajuda da sua companheira de quarto e advogada têm a ideia de se apropriar do crime, para tirar os devidos dividendos, tratando-se de um caso de “defesa da honra”.
A chegada da verdadeira culpada vem complicar os seus planos. Ozon cruza várias das suas paixões, um cinema mais teatral, no bom sentido, que defendeu em “8 Mulheres” e “Peter von Kant”, o registo policial, como em “Swimming Pool”, e o gosto pelo trabalho de atores, sobretudo de atrizes, que vem evidenciando ao longo da carreira.
A trama de “O crime é meu”, ancorada em diálogos sempre certeiros, desenvolve-se com o rigor e o “tempo” de um relógio suíço, o que já se deveria à peça original em que se baseia. Dany Boon, Fabrice Luchini e André Dussolier são como sempre truculentos, não batendo no entanto uma Isabelle Huppert que se deve ter divertido tanto a fazer este “boneco” de uma antiga diva do mudo. Mas é nas menos conhecidas Nadia Tereszkiewicz e Rebecca Marder que o filme assenta, e bem, de princípio a fim.
A certa altura, as duas vão ao cinema ver “Mauvaise Graine”, que Billy Wilder fez em França antes de se exilar nos Estados Unidos. Danielle Darrieux, que faleceu em 2017, aos 100 anos, fez esse filme em 1934, situando assim a história e, sete décadas mais tarde, seria uma das oito mulheres de Ozon. Um dos muitos piscar de olhos de um filme prazeroso e nostálgico.