Coreógrafa Joana Providência estreia esta sexta-feira no Teatro Rivoli, no Porto, a sua nova criação “Justiça”.
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“Mesmo que tentemos, não fomos feitos para esquecer. Nunca vou poder esquecer aquilo que destruí”. A frase lapidar encerra a ideia de “Justiça”, peça que a coreógrafa Joana Providência leva à cena no Teatro Rivoli, no Porto, esta sexta-feira e sábado, numa criação com dramaturgia de Alexandra Moreira da Silva.
O projeto, como explica Joana Providência, parte de uma busca utópica sobre a justiça. A cada um dos sete intérpretes foi pedido que pensassem sobre as questões de direito e de razão que lhes eram mais urgentes e próximas e daqui sobressaem temas como género, guerra, relações ou a morte.
A técnica de composição de Joana Providência pede intérpretes muito peculiares, com a mesma agudeza técnica e emocional, uma força telúrica que obriga a um conhecimento profundo da natureza humana – e, talvez por isso mesmo, nas suas criações tenha elencos por convite. Pela primeira vez, em “Justiça” escolheu apenas duas intérpretes e acabou por fazer uma audição.
O jogo de associações em cena é permanente; numa casa desfeita há perigos iminentes à espreita, mesmo que, para quem os esteja a viver, tudo se possa tornar lúdico. Pequenas alegrias como paliativos para catástrofes, em intricados jogos coreográficos bem conseguidos, com duas intérpretes, Daniela Cruz e Angela Diaz Quintela, que se destacam pela sua conjugação de técnica interpretativa.
Não haverá sensação mais repulsiva do que a da impotência perante a injustiça – e esta aparece aqui muito bem trabalhada, enfatizada pelo uso de elementos cenográficos muito impactantes. No final do espetáculo, permanece a sensação de existirem mais perguntas do que respostas, e a solução parece ser decretar barreiras e rejeitar imposições que não façam sentido.
Em “Justiça”, Joana Providência parte da interpelação milenar de Anacársis – “as leis são como teias de aranha que prendem os fracos e pequenos insetos, mas são rompidas pelos grandes e fortes” – que, diz, “ecoa no mundo contemporâneo com desconcertante pertinência”.