Cantora brasileira regressa ao Porto e a Lisboa para dois espetáculos com Geraldo Azevedo. "É uma bênção de Deus ser uma artista que consegue atravessar tantas gerações e com respeito", diz Elba Ramalho ao JN.
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Com 48 anos de carreira e 73 de vida, é com "muita alegria" que Elba Ramalho está de volta a Portugal. Nome transversal da música popular brasileira, vai dar dois espetáculos com o companheiro de palcos e composições Geraldo Azevedo: “Um encontro inesquecível”, passa esta sexta-feira pela Super Bock Arena, no Porto, e sábado pelo Sagres Campo Pequeno, em Lisboa.
A ligação entre a cantora de “Bate coração” e o compositor remonta aos anos 70, aos tempos em que Elba era atriz e ambos continuam a caminhar em direção ao cume da música nordestina e brasileira. A "ave de prata" garante que a sua vitalidade, “por bênção e graça”, nunca esmorece.
Há dias confessou nas redes sociais que estava ansiosa por voltar a Portugal. Tinha saudades?
Sim, faz uns anos que não vinha e tenho sempre saudade. Aliás, reclamo sempre com o meu empresário, porque antes tinha uma frequência maior, já fiz espetáculos de ponta a ponta deste país, em várias ocasiões. E agora vamos ficando no ritmo no Brasil, mas eu reclamo! E para mais voltar com Geraldo Azevedo! Este é um espetáculo diferente porque é dividido pelos dois, mas os dois são o compositor e a intérprete e acaba sendo um resultado bonito e emocionante. É sempre uma alegria voltar, e quero rever tudo, estou a aproveitar cada minuto, estou com o meu filho e com a minha neta aqui.
Portugal é um aconchego?
Portugal é aconchego sim, já me acolheu tanto, tenho tantas histórias, memórias;. É o meu segundo aconchego, um país que admiro em vários aspetos, não só musical mas pela literatura, pelos poetas que desde pequena aprendi a amar… até pela culinária. Sempre tive uma relação diferenciada, íntima e especial com Portugal.
Costuma ouvir música portuguesa?
Sempre, adoro fado, adoro a Amália Rodrigues, a Carminho, a Mariza também. Vi-a num concerto e ela fez uma versão do “Aconchego” a capella, fiquei feliz da vida
Como apareceu a Carminho a cantar consigo um tema do Dominguinhos?
Eu assisti a um concerto dela no Rio de Janeiro e fiquei muito impactada. E decidi convidá-la para um tema que tem um lado de fado, mas um lado regional, o Dominguinhos era o mestre do acordeão. Mas foi bonito, ela foi muito técnica, muito bem preparada, fiquei muito impressionada com ela.
Os encontros entre artistas de Portugal e Brasil fazem cada vez mais sentido?
Fazem sim, deveriam acontecer mais. Portugal é um país que tem a musicalidade, tem o lado triste, que nós temos no nosso cancioneiro nordestino, e que tem tudo a ver com a herança genética musical, ADN musical, da música portuguesa. Há muitas ligações.
Mantém a parceria com o Geraldo Azevedo há 40 anos. Qual é o segredo?
É uma história musical de muita intimidade, uma parceria grande, o Geraldo é um compositor extraordinário, esteve comigo desde o tempo que era atriz, desde os anos 70, 80, ele já estava do meu lado. Sou a cantora brasileira que mais gravou os temas dele e isso transparece no concerto, há uma afinidade musical, são canções fortes, canções dramáticas. O Geraldo é um compositor requintado, um violão sofisticado, uma voz suave, é tudo uma combinação muito boa.
Já decidiu que temas vai interpretar no Porto e Lisboa?
Ainda nem pensei. Eu e o Geraldo fazemos uma parte juntos, depois sou eu sozinha, depois juntos, e de novo sozinha até terminarmos juntos. Decido o que cantar sentindo o termómetro do público, é uma coisa natural, e canto o que as pessoas pedem na hora. Sei que “Aconchego” é uma canção que está na bagagem de muitos brasileiros que moram aqui, que vivem com saudade. E depois há o lado da minha festividade, o forró. Vamos ver o que acontece.
Como explica a transversalidade da sua música?
Acho que é uma bênção de Deus, uma graça, ser uma artista que consegue atravessar tantas gerações e com respeito. Tenho amigos de todo o Brasil, de fora. E continuo com muita vitalidade, muita fé, com muita alegria, energia, muita aeróbica, sou uma pessoa muito dinâmica. E isso para mim é uma bênção, é uma graça. E espero que possa também comunicar essa mensagem de paz, de amor e de fé que procuro levar no meu trabalho, para que as pessoas possam manter “a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.