Em Guimarães há um festival que é um laboratório de criação

A música vaporosa de Mafalda e Zoe Berman preencheu o último concerto “showcase" das duplas criativas que este ano estiveram em residência no Centro de Criação de Candoso, na noite desta quinta-feira. Não foi um momento arrebatador, mas talvez não fosse possível fazer mais quando duas artistas partem de zero para, em apenas uma semana, montar um espetáculo inteiramente novo. Ainda assim, ficou no ar a ideia de que, se alimentarem a parceria como prometeram, coisas muito interessantes poderão surgir desta dupla.

O festival ainda tem muito para oferecer este sábado à tarde e à noite.

A grande originalidade do Westway Lab, em Guimarães, é a vertente criativa, altamente desafiadora para os artistas. “Somos confrontadas com uma lista de músicos com quem podemos colaborar e é-nos pedido para escolhermos três, ordenados pela nossa preferência”, explica Mafalda ao JN.

A organização, na posse de toda a informação, faz o ‘match’. “Nem sempre ficam com a primeira escolha, mas tentamos agrupá-los da melhor forma”, explica Rui Torrinha, diretor artístico do festival. “A partir daí, têm liberdade total para fazerem o que quiserem. A única regra é apresentarem-nos um concerto de trinta minutos ao fim de uma semana”, aponta o responsável.

O tempo é passado no Centro de Criação de Candoso, onde dormem, comem, escrevem e ensaiam. Os artistas não se conhecem previamente e, quando muito, trocaram um email ou fizeram um telefonema, antes de entrarem na residência. “Eu e a Zoe trocamos um email com coisas simples, como cor favorita, gostos, idade, influências artísticas, formação”, conta Mafalda.

Zoe Berman é uma cantora e compositora norte-americana, de Denver, Colorado, que acompanha as suas letras, que compõe muitas vezes a caminhar, ao piano e à guitarra. Estudou o primeiro instrumento, é autodidata nas cordas e a sua música tem influências de soul e jazz.

Mafalda Costa surgiu no panorama musical português pela primeira vez, em 2019, sob o alter ego Mathilda. Este trabalho garantiu-lhe passagens pelos palcos do Festival Paredes de Coura e da Casa da Música. Com este primeiro projeto fechado, a cantora voltou agora, em nome próprio, com o single “In your name”, em colaboração com St. James.

Duas sensibilidades de luz e sombra

O resultado do encontro das duas sensibilidades foram melodias harmoniosas, embora com um conflito não resolvido entre o registo mais luminoso da americana e o tom mais obscuro de Mafalda. A fricção criativa ficou bem ilustrada nas palavras que dirigiram ao público, classificando a música como sendo para pensar “about life, love ones or lost ones”.

Zoe não coloca de parte a possibilidade de vir a gravar o material com que saíram da antiga escola primária de Candoso São Martinho, transformada em centro criativo.

Estes encontros no Westway Lab são pontos de partida e o arranque, neste caso, pode classificar-se como bom ou “a explorar mais para ver o que pode dar”. É com este espírito que os músicos encaram esta semana.

“O grupo que esteve aqui em 2022, alugou uma casa no sul de França, para, por iniciativa deles, repetirem a experiência e gravarem um trabalho em conjunto”, conta Rui Torrinha ao JN.

Há ainda 13 espetáculos

O festival encerra este sábado e ainda há 13 concertos para ver ao longo de toda a tarde, entrando pela noite dentro.

Remna é a primeira: atua às 14.30 horas no Convívio. Seguem-se Sónia Trópicos (15h) e Corvo (17h) no Oub’Lá, depois há Grand Sun (15h30) e Melquiades (17h30) no Ramada 1930.  Debdepan sobe ao palco do Tribuna (16h), JP Coimbra ao do Convívio (16h30), e Franek Warzywa e Melody Budda apresentam-se no Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (18h).

E há ainda: Júlia Mestre (Centro Cultural Vila Flor, 21.30 horas), Conferência Inferno (Café-Concerto do Centro Cultural Vila Flor, 22.15 horas) , UTO (Centro Cultural Vila Flor, 23 horas) Unsafe Space Garden (Café-Concerto do Centro Cultural Vila Flor, 23.45 horas) e, por fim, New Dad (Centro Cultural Vila Flor, 0.30 horas).