Conhecer o passado para não repetir erros, num formato ideal para novas gerações.
Corpo do artigo
Preservar a memória é fundamental, para que acontecimentos marcantes ou trágicos não sejam esquecidos e nunca mais se repitam.
"À procura de Anne Frank", já disponível nas livrarias portuguesas, é a versão em banda desenhada do filme de animação homónimo que se estreia na próxima semana, realizado por Ari Folman. O seu ponto de partida é a inauguração de uma exposição dedicada a Anne Frank, a adolescente judia que viveu longos meses escondida com a família num sótão na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial, tentando assim escapar ao holocausto levado a cabo pelos nazis. Uma vez descoberta, foi enviada para um campo de concentração onde viria a falecer, e o que vivenciou só foi conhecido anos depois, quando foi encontrado o seu diário.
De regresso à atualidade, o gancho narrativo de "À procura de Anne Frank" é então a mostra dedicada à jovem na casa onde ela viveu, que entre outros objectos inclui o seu diário. Quando este desaparece, tudo aponta para Peter, um jovem carteirista lá presente, mas a verdade é que o livro tomou vida sob a forma da adolescente Kitty - o nome com que a jovem escritora o batizou.
A partir desse momento, a interação, nem sempre fácil, entre esta última e Peter, permite a Ari Folman e Lena Guberman evocarem a história original de Anne Frank e, ao mesmo tempo, estabelecer paralelismos entre o que foi vivido no início da década de 1940 e alguns aspetos da atualidade: a desconfiança em relação aos estrangeiros ou diferentes, os preconceitos, a intolerância.
Com uma assinalável concisão ao nível do texto, que dá aos desenhos espaço para respirarem e assumirem o protagonismo na narrativa, o facto de "À procura de Anne Frank" utilizar o grafismo agradável e muito legível da animação, com um toque de manga ao nível dos olhos e das poses, torna este livro ideal para iniciar as novas gerações numa temática sempre incómoda e complexa, que alguns tentam branquear. Para mais, porque houve por parte de Folman e Guberman bastante contenção na explanação dos factos históricos, para não tornarem demasiado penosa a leitura, mas deixando as pistas suficientes para os leitores mais curiosos poderem aprofundar o tema.
À procura de Anne Frank
Ari Folman e Lena Guberman
Porto Editora