"Colecção Zidrou" distingue um dos mais interessantes argumentistas de banda desenhada da atualidade. Ação do novo álbum passa-se durante a época vioriana.
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Se no cinema é normal seguir atores, na banda desenhada geralmente procuram-se determinados desenhadores. Mas, tal como na Sétima Arte, há quem escolha os filmes preferencialmente pelos realizadores, também na BD há leitores que fazem escolhas pelo nome do argumentista.
Neste particular, Zidrou é um dos nomes a reter e, se as suas obras de tom humano estão hoje espalhadas por diversos catálogos nacionais, em boa hora as editoras A Seita e Arte de Autor se uniram para lhe dedicarem uma coleção de que "Emma G. Wildford" é o tomo mais recente.
Ambientada durante o reinado da rainha Vitória de Inglaterra, com toda a carga que isso implica, em especial sobre as mulheres, tem como protagonista a jovem Emma, que contraria todo o espírito da época.
Autónoma, aspirante a escritora, independente e decidida tem, no entanto, a vida suspensa do regresso do noivo, Roald Hodges, membro da National Geographic Society, desaparecido numa expedição à Lapónia. Perante o silêncio da organização e as tentativas de consolação e comiseração por parte dos mais próximos, Emma decide partir à aventura, em busca do seu amado.
Para trás, num clima de desaprovação total, larga tudo e também uma carta que Roald lhe deixou caso não voltasse, e que nunca quis ler, acreditando que isso mantinha vivo o seu noivo - ou pelo menos a sua esperança. A viagem, por locais inóspitos, de clima rigoroso, será feita num misto de descoberta e afirmação, com Zidou a aproveitar para caracterizar, com realismo e contido humor, a jovem Emma, bem como uma época plena de regras castradoras e preconceitos, num relato não isento de surpresas cujo desfecho vai para lá do acabar "bem" ou "mal".
Graficamente, Edith com um traço simples, despido de pormenores desnecessários mas muito eficiente em termos narrativos, dá vida a uma Emma que atrai e dispõe bem o leitor, embora possa revelar-se algo desconcertante pela forma como tantas vezes decide tomar em mãos as rédeas do seu destino.
Leitura de conforto, pelo tom otimista que apesar de tudo dela exala, "Emma G. Wildford" na edição portuguesa, a exemplo da original francófona, tem - literalmente - um exemplar da famosa carta que pontua todo o relato e cuja leitura, a fazer apenas no final, confere um sentido acrescido ao que foi sendo narrado.