Zidrou e Lafebre voltam a surpreender-nos, enternecer-nos e a mostrar o melhor do ser humano.
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Esta história tem por cenário o Beco do Bebé com Bigode. A artéria não se chama assim, claro, mas quase todos esqueceram o barão que lhe deu nome, quando um vândalo de trazer por casa decidiu pintar um farfalhudo bigode no bebé da publicidade a um sabonete, que decora o muro no fundo da rua.
Esta é a primeira de uma série de peculiaridades de "Lydie", uma co-edição Arte de Autor e A Seita. A seguinte, é o facto de ser narrada pela senhora que, do nicho na parede de onde supostamente protege os moradores daquele cantinho da cidade, vê tudo e nos vai contando o que aconteceu.
E conta-nos que "Lydie", uma doce história, começa de forma trágica. E que poderia continuar apenas nesse registo negativo e desconfortável porque, logo a abrir, após uma breve apresentação de alguns participantes, Camille, a jovem com alguns problemas mentais, filha de um maquinista, vai perder o seu bebé à nascença. Seria a pequena Lydie, que dá título ao livro e perpassa por todas as suas páginas de forma peculiar, apesar de falhar a entrada neste mundo, que tantas vezes é mesquinho, mau, mesmo atroz.
Mas, felizmente, o argumentista é Zidrou, que já nos deu "Verões felizes", "Emma G. Wilford", "A Adopção" ou "A Fera", que tem o condão de, a cada novo relato, conseguir surpreender-nos, enternecer-nos e mostrar o melhor do ser humano.
No caso presente, aquela tragédia não fica pelo simples falecimento - e como custa aqui escrever simples - mas irá prolongar-se ao longo dos anos, porque a jovem Camille recusa aceitar a morte da filha que tanto desejou; mais, vive como se ela tivesse sobrevivido.
E Zidrou, aqui mais uma vez em parceria com Jordi Lafebre e o seu traço vivo e agradável, servido por belas cores que já vimos em "Apesar de tudo" ou "Sou o seu silêncio", mais uma vez surpreende-nos, enternece-nos e mostra o melhor de uns quantos seres humanos - mesmo quando querem ser maldosos ou implicativos... Em "Lydie", os diversos moradores do Beco do Bebé com Bigode que, de forma que recuso expor e só posso aconselhar a descobrir numa leitura capaz de humedecer muitos olhos, vão alimentar ao longo do tempo uma ilusão que enche a alma e aquece o coração.
Lydie
Zidrou e Lafebre
Arte de Autor/A Seita
60 p., 18,50