Aos 75 anos, Iggy Pop lança um dos discos mais crus dos últimos tempos. Com "Every loser", o lendário músico prova que a reforma não faz parte dos seus planos.
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O que dizer de um artista que aos 75 anos lança um disco, o seu 19.º disco, que é um dos álbuns mais crus e viscerais dos últimos tempos? Podíamos sempre dizer que os tempos têm sido fracos, mas tal não é verdade. A verdade é que o artista é um gigante que teima em não se acomodar, nem envelhecer.
O homem foi batizado de James Newell Osterberg, mas o artista decidiu chamar-se Iggy Pop, um sinónimo de punk, luxúria e muita atitude. Depois de mais um mítico concerto no verão passado, em Vilar de Mouros, já sabíamos que o padrinho do punk estava em boa forma física. Após o lançamento de "Every Loser", ficamos também a saber que está numa superlativa forma criativa.
É um disco carregada de sarcasmo e crítica social mas sem cair no estereótipo de velho de Restelo. São reprimendas mordazes, carregadas de ironia e sarcasmo, apontadas ao coração de uma ideologia que idolatra as aparências e os "gostos". "Neopunk", "Comments", "Modern Day Rip Off" e "Regency" são algumas das armas de destruição musicais que Iggy Bomb usa para arrasar os mandamentos desta nova religião de adoração virtual. Há também espaço para momentos mais calmos onde o músico sempre se sentiu à vontade graças à sua voz grossa de barítono que em New Atlantis nos sussurra: "I Love You".
Em "Every Loser", Iggy contou com a batuta e o talento do produtor Andrew Watt e a colaboração de vários pesos pesados como o baterista Chad Smith (Red Hot Chilli Peppers", o multi-instrumentalista Josh Klinghoffer, e ainda Dave Navarro, Eric Avery e Chris Chaney (todos dos Jane´s Addiction), Duff McKagan (Guns N Roses), Stone Gossard (Pearl Jam), Travis Barker (Blink 182) e o já falecido Taylor Hawkins (Foo Fighters), num dos seus últimos trabalhos. A experiência de Iggy Pop, condimentada por algum sangue mais ou menos fresco dos convidados, culminou num dos melhores álbuns da longa, enorme, carreira do músico.
A verdade é que os 75 anos do artista são apenas um número. Iggy Pop continua com a mesma atitude e o mesmo apetite voraz de um adolescente prestes a gravar o seu primeiro álbum numa garagem. "Every Loser" é a melhor prova de que a juventude não é uma questão de idade. É um estado de espírito e Iggy Pop tem-no selvagem e indomável.
"Every loser", de Iggy Pop