Realizador de "O crime do padre Amaro" confessa que queria lançar projeto há já 20 anos e acredita que será um sucesso.
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A série de seis episódios baseada na obra "O crime do padre Amaro", do escritor Eça de Queirós, tem tudo para prender os telespectadores à televisão. A convicção é do realizador Leonel Vieira, que promete um "caldo explosivo" entre dois temas que considera tabus na sociedade portuguesa: o erotismo e a relação da Igreja Católica com a sociedade.
"A obra é um conflito constante. Além da paixão erótica, é uma tremenda crítica à época, à igreja católica, e aos dogmas e às verdades absolutas, como muitas vezes se organizam as sociedades", justifica o realizador. "Estas duas temáticas juntas são de um interesse brutal para o público. Se fizermos isto bem, esta série tem tudo para agarrar e ser um grande sucesso", acredita.
Leonel Vieira conta que a ideia de fazer um filme baseado no livro de Eça de Queirós tem 20 anos. Contudo, só constatou que os direitos eram do domínio público quando saiu um filme mexicano e argentino, que caracteriza como "uma inspiração livre da obra". Apesar disso, entendeu que devia deixar passar algum tempo.
Só que, em 2005, é produzido um novo filme, desta vez português, protagonizado pelos atores Soraia Chaves e Jorge Corrula.
O mais fiel possível
Dezasseis anos depois, o sonho está finalmente a realizar-se. A principal diferença entre os dois filmes e a série que Leonel Vieira está a realizar consiste no facto estar a ser o mais fiel possível à obra do escritor e ao ambiente da época, pelo que está a ser rodada em Leiria, onde se centra a história. "Disse aos dois guionistas e à equipa que queria estar próximo do espírito do Eça. Quero respeitar o olhar e a atmosfera da obra."
O cineasta revela que optou por contar a história de uma forma realista, tal como sucedeu com o filme "O último animal", rodado no Brasil, que se centra nas favelas do Rio de Janeiro, no narcotráfico e na corrupção, e que ainda não tem data de estreia nos cinemas. "É como se fosse um documentário. Essa radiografia interessa-me e agrada-me, porque é muito mais verdadeira."
Os protagonistas do amor proibido entre o padre Amaro e Amélia são os atores Miguel Condessa e Bárbara Branco, que também formam um casal na vida real. Ao elenco juntam-se Diogo Martins (padre homossexual), Miguel Raposo (pretendente de Amélia) e os veteranos Filomena Gonçalves (mãe de Amélia) e José Raposo (cónego Dias).
Estreia prevista no ano que vem em horário nobre
Ainda em rodagem, a série "O crime do padre Amaro" só será transmitida em 2022, revela José Fragoso, diretor da RTP. "Ao longo do ano, temos em produção entre 10 a 12 projetos diferentes. A RTP é o único operador de televisão que faz ficção histórica e documentários. São as nossas duas linhas de apoio à produção independente", afirma. "Interessa-nos ter uma ligação ao vetor da literatura. Queremos trazer os nossos autores para a televisão", sublinha. Com um orçamento de 1,2 milhões de euros, a série contou com um apoio de 199 mil euros da Câmara de Leiria.